Publicado em 5/10/2022 as 7:00pm
Coluna Wendel Stein
Coluna Wendel Stein
Vivendo das letras
Esta semana estava lendo um livro de pouca tiragem, lançado em poucas livrarias do Brasil, As Cartas De Tolkien. A leitura me fez viajar por lugares e costumes muito diferentes daqueles que encaramos no mundo literário tupiniquim.
J.R.R. Tolkien foi um gênio da literatura, autor de diversos livros, novelas e contos. Criou línguas novas, como o élfico e um mundo geográfico e histórico completamente real.
Naquela época onde a internet era tão ficção científica como uma obra de Julio Verne, as cartas eram os únicos meios de correspondência entre escritores. O livro As Cartas de Tolkien apresenta isso, as missivas que o autor trocava com amigos, editores, professores e escritores durante a criação de suas principais obras. Com a leitura acompanhamos de perto como funcionou o processo criativo e de finalização de clássicos como O Senhor dos Anéis.
Em outros países, por mais instruído que possa ser o escritor, as obras sempre passam por mais do que uma revisão ortográfica e gramatical. Os editores são prestativos e pacientes, as críticas e sugestões enriquecem e por vezes direcionam o resultado do produto. As ponderações do autor quase sempre são atendidas pelas grandes editoras. Graças a isso o produto final é da mais alta qualidade, seja gramatical seja impressa.
No Brasil o caminho do escritor é tão árduo como andar nas pedras. As editoras não atendem a demanda de novos escritores, os agentes literários são escassos e caros como diamante. Quanto encontramos um editor/agente nacional, seu custo é elevado e tem que pagá-lo para que ele tentar encontrar uma editora. Em caso de o autor ter a coragem de enfrentar sozinho a publicação, ainda precisa implorar para conseguir patrocínios de empresas para reduzir um pouco o custo da impressão.
Já no ponto de venda, para a distribuição tudo tem que ser consignado e por mais páginas e conteúdo que tenha, se o livro custar mais do trinta reais, se não for de um autor famoso, não se vende.
É possível contar nos dedos da mão esquerda quantos autores de ficção sobrevivem disso no Brasil, Paulo Coelho, André Vianco, quem mais?
A literatura é instrumento crucial para a construção da identidade de uma nação. E o Brasil precisa despertar para esta necessidade, para que no futuro, ainda possam existir livros e escritores brasileiros.
Wendell Stein é jornalista, escritor e colunista do Brazilian Times.