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Publicado em 21/01/2023 as 2:00pm

Coluna Arilda Costa: Entrevista com o artista Humberto Espíndola

Humberto Augusto Miranda Espíndola é um artista plástico brasileiro, criador e difusor do...


Humberto Augusto Miranda Espíndola é um artista plástico brasileiro, criador e difusor do tema Bovinocultura desde 1967. Representou o Brasil na Bienal de São Paulo, Brasil, 1969 e 1971; Bienal de Veneza, Itália, 1972; Bienal de Medellin, Colômbia, 1972; Bienal do México, 1978; Bienal de Havana, Cuba, 1984; Bienal de Cuenca, Equador, 1989.

Suas obras integram os acervos do Fórum Ludwig Aachen, Alemanha, Casa de Cultura José Marti, México, Casa de Cultura Wifredo Lam, Cuba, AMBA Collection Contemporary Art from Africa, Brasil and Caribbean, Londres, MASP Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Pinacoteca de São Paulo, MAC Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAM Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Museu de Arte Paranaense e Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Paraná, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais, entre outros.

Como e quando se dá o seu primeiro contato com as Artes?

Aos 13 anos tive meu primeiro contato com a pintura, através de um tio que percebeu meu talento. Pintei meia dúzia de quadros e a família elogiou muito os trabalhos. Mas, na verdade, o professor Bassi, que me orientava, retocava os quadros e então compreendi perfeitamente que os elogios não eram para mim. Desisti da pintura, o que foi bom, pois aprendia nesse momento a importância da autocritica. Assim, abandonei a pintura, só retornando a esse desejo quando já estudava jornalismo em Curitiba, graças as aulas de história da arte ministradas com muito entusiasmo pelo professor Barontini, que redespertou em mim o desejo de pintar. Me apaixonei por Van Gogh.

Como surgiu ou você descobriu este dom?

Aos 6 ou 7 anos, quando me davam a missão de molhar o chão do quintal, desenhava com o esguicho da água em um grande paredão, que logo absorvia os desenhos e eu recomeçava realizando outras figuras. A família percebeu então que eu tinha esse dom. Essa parede de fato foi meu principal caderno de desenho. Ali exercitei minha tendência a grandes quadros e murais.

Quais são suas principais influências?

A primeira grande exposição que me impressionou eu já estava na faculdade em Curitiba. Vi uma exposição dos muralistas mexicanos Orozco e Rivera. Três anos depois vi na Bienal de São Paulo em 1967 uma grande retrospectiva da Pop Arte e o american way of live me inspirou a buscar o que correspondia a isso em minha vida e na minha terra natal. Lá estava o boi como principal fator socioeconômico da minha região. Nasceu assim a “Bovinocultura”. Logo a conduzi para a crítica social, pois vivíamos no Brasil a ditadura militar. Então conquistei meu espaço na arte brasileira.

Como é o seu processo criativo em si? O que te inspira?

Meu processo criativo, a partir do que já relatei, passou por várias experiências culturais e plásticas nos últimos 55 anos, e muitos estudos sobre a minha temática, inclusive viajando pelo mundo atrás da importância do boi, prevendo com meio século de antecedência a sua importância atual no agronegócio brasileiro. Sobre seu aspecto mítico, estudei in loco, principalmente na Índia e no Egito.

Quando você começou efetivamente a produzir ou criar suas obras?

Em 1967 a Bovinocultura estreia no IV Salão de Brasília, que tinha como objetivo mostrar a arte deste imenso “Brasil de dentro”.

A arte é uma produção intelectual primorosa, onde as emoções estão inseridas no contexto da criação, porém na história da arte, vemos que muitos artistas são derivados de outros, seguindo técnicas e movimentos artísticos através do tempo, você possui algum modelo ou influência de algum artista? Quem seria?

Estudei muito a história da arte, visitei muitos museus em mais de vinte e cinco países e fui assim construindo minha trajetória e obra. São mais de quatro mil pinturas, desenhos e objetos, além de arte ambiental que apresentei nas Bienais em São Paulo, Veneza e de países latino-americanos.

O que a arte representa para você se fosse resumir em poucas palavras o significado das artes na sua vida?

A própria vida, pois a dediquei à pintura e à animação cultural. Junto com a animadora Aline Figueiredo deixamos para nossos Estados (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) a fundação de Museus e históricas montagens de exposições em projeto que revelou artistas e os afirmou, revelando pela primeira vez a arte deste Brasil interno e profundo. Junto a isso realizamos integração com artistas e estudiosos da arte sul-americana.

Quais as técnicas que você usa para expressar suas ideias, sentimentos e percepção acerca do mundo?

Como já disse, passei pela arte ambiental (instalações), arte objectual e diversos tipos de suporte, como por exemplo couro de boi, arte digital, mas me considero principalmente pintor.

Você tem alguma outra atividade além da arte?

Gosto de escrever também, tenho livros publicados e em 2021 fui eleito para a Academia Sul-mato-grossense de Letras

Suas principais exposições nacionais e internacionais e suas premiações? (Mencione as 5 mais recentes)

Na virada dos anos 60 para os anos 70 fui premiado em muitos Salões de Arte Brasileira e Bienais Internacionais. Destaco a 36ª Bienal de Veneza, que impressionou o escritor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, que me cita em seu primeiro livro, “Manual de pintura e caligrafia”.

Seus planos para o futuro?

Vou completar 80 anos. Pretendo pintar até quando a vida me permitir. Amo o que faço.

Em sua opinião qual é o futuro da arte brasileira e dos seus artistas? Por que tantos artistas estão dando preferência em mostrar seus trabalhos em exposições internacionais apesar dos altos custos?

Estamos vivendo uma transição cujo resultado ainda é imprevisível, devido a revolução informática, muitas mudanças técnicas. Mas creio que a pintura ainda será importante para expressar a capacidade física do homem por muito tempo ainda. A imagem pode passar por processos técnicos, assim como a invenção da pintura a óleo e o suporte do cavalete revolucionaram a apresentação da arte no Renascimento, vamos ter um novo renascimento com a entrada da digitalização e a holografia... Mas o fazer arte no seu sentido intrínseco pertence à manifestação humana. Na minha opinião a arte é eterna.

Como você desenvolveu seu estilo?

Busquei uma forma de expressão que me satisfez, sinto-me pleno quando pinto. Para mim é meditação o movimento dos pincéis e das pinceladas e cores, entro em outra dimensão do meu ser. Na pintura descobri minha razão de existir.

Na história da arte qual período ou movimento você gostaria de ter feito parte e porquê?

Me sinto um pintor do século 20, pois nele terei passado a maior parte de minha vida. A pintura da virada do século 19 para o século 20 é minha grande referência.

Você tem de estar sempre criando ou apenas em certos momentos?

Como profissional da pintura tenho minha disciplina, mas a inspiração é fundamental. Só trabalho quando estou bem fisicamente e espiritualmente. Quando o meu emocional não está bem, se pinto me curo.

Van Gogh copiava artistas que ele admirava como Jean François Millet. O produto da sua obra é único ou tem alguma relação próxima ou distante com alguma outra inspiração artística?

Acho normal esse comportamento no artista.

As redes sociais têm lhe ajudado na divulgação de seu trabalho?

Sim, com certeza. A mídia de um modo geral sempre foi uma grande aliada da arte contemporânea. Principalmente hoje, que temos acesso imediato pelo Google ou algo que se assemelhe.

Como as artes plásticas podem contribuir para a educação e cultura?

Acho fundamental na educação.

Como analisa as qualidades de uma obra de arte?

Isso é um papel da crítica de arte, mas a qualidade e a inovação são requisitos fundamentais.

Quais os critérios para estipular o valor de uma obra de arte?

Mercado. Lei da oferta e da procura. Um velho processo.

Fale sobre seus projetos atualmente:

Ultimamente tenho me dedicado a criação de monumentos em aço recortado. Estou gostando de me desafiar nessa nova modalidade.

Qual o seu conselho para os que estão começando agora?

Não dou conselhos, apenas comento com quem me procura para dar opinião.

Poderia comentar alguma curiosidade artística?

O aparecimento da arte digital.

Seu maior sonho como artista?

Continuar artista até a morte.

 



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