Coluna Debora Corsi: O vírus que deixou sequelas

O ano de 2020 ficou marcado mundialmente pelos efeitos trágicos causados pelo COVID-19. O vírus obrigou a humanidade a regressar ao lar, sem previsão de saída. Vivemos uma experiência tenebrosa, com notícias diárias de mortes em todas as partes do mundo. Hospitais lotados, médicos e enfermeiras enfrentando o inimigo desconhecido na linha de frente. Muitos não resistiram ao contágio, sacrificando suas vidas na tentativa de salvar outras. Aqueles que sobreviveram passaram pela exaustão e pelo medo do futuro. A ciência buscava incansavelmente uma vacina para combater o inimigo que assolava o planeta.

Foram meses vivendo na incerteza. Abraços foram proibidos, a vida social foi cancelada, empresas faliram, igrejas fecharam as portas e vidas foram ceifadas. Um vírus lá fora nos forçou a voltar para dentro. A quarentena, que se estendeu por um tempo ainda maior, foi um choque de realidade para muitas famílias. As razões para isso foram claras:

- O trabalho e os negócios foram priorizados em detrimento do bem-estar mental.

- Marcaram tantos compromissos de negócios que negligenciaram o tempo de qualidade com a família.

- Prestaram atenção em notícias de esporte, economia, política e moda, mas não deram carinho ao cônjuge.

- Acompanharam os amigos em jantares e bares, mas não acompanharam o crescimento dos próprios filhos.

- Compraram tudo o que podiam para satisfazer o ego, e descobriram que não podiam comprar uma família.

- Preservaram os animais de estimação, mas abandonaram os idosos nos asilos.

O retorno para casa foi um período de adaptação que, infelizmente, muitos não suportaram. Em vez de tentar entender um ao outro e se reconectar, optaram por romper relacionamentos. O tempo dentro de casa evidenciou imperfeições que antes eram quase imperceptíveis, pois muitas famílias só se encontravam no final do dia, e às vezes nem isso. O vírus que estava lá fora conseguiu entrar no corpo e nas famílias.

Agora, as portas estão abertas para vivermos em sociedade, mas os corações estão fechados para novidades. Fomos liberados para abraçar novamente, mas a intolerância contaminou a mente. Livramo-nos das máscaras, mas não vemos mais sorrisos espontâneos. Fomos imunizados contra o vírus, mas a ciência não descobriu uma vacina que traga de volta o amor ao próximo. A pergunta que fica é: realmente vencemos esse inimigo? Enquanto a sequela desse vírus permanecer nos corações humanos, não estaremos inteiros. É necessário refletir que, se um dia precisarmos voltar para dentro, que seja em nosso melhor momento.

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