Publicado em 24/06/2024 as 2:00am
(Coluna Liza Andrews) Juneteenth: Muito Mais Que Um Feriado
Por ser um feriado novo, cuja celebração foi oficialmente reconhecida nacionalmente apenas...
Por ser um feriado novo, cuja celebração foi oficialmente reconhecida nacionalmente apenas em 2021, muitos brasileiros ainda não entendem tudo o que o “Juneteenth” representa.
Assim como qualquer outro feriado, uma busca online lhe dirá por que razão ele é celebrado. No caso em questão, é a data comemorativa da libertação dos escravos nos Estados Unidos. A palavra "Juneteenth" é uma junção de "June" (junho) e "nineteenth" (décimo nono), referindo-se ao dia 19 de junho de 1865, quando a notícia da proclamação de emancipação finalmente chegou ao estado do Texas, o último a implementar a abolição da escravidão.
Mas guardemos os conceitos simples e puramente celebratórios para por exemplo, o 4th of July, que é meramente o que se entitula: o “Dia da Independência dos Estados Unidos.” Tratando-se de um feriado que reflete o racismo neste país, há muito mais pro trás do Juneteenth do que o “Google” explica.
O 19 de junho possui camadas de ativismo borbulhando por baixo da celebração. Há uma expectativa de reparação pelos males que a escravatura causou à raça negra nos E.U.A, e todo ano, diversos movimentos ocorrem nesta data.
Os Americanos de raça negra, ou como aqui preferem ser chamados, os “Afro-Americanos”, queixam-se de negligência aos seus direitos por longa data; e esperam algum tipo de reparação pelas oportunidades salariais e sociais que lhe foram roubadas. Bem como seus direitos —mesmo oficialmente declarados —não serem efetivamente ou imediatamente implementados.
Este descaso com os Afro-Americanos, e o fato das leis que os defendem/beneficiam não serem seriamente postas em prática, não data da era negra da Ku Klux Klan, no século passado. Infelizmente, remete ao período pós-Guerra Civil, quando a escravidão foi abolida nos Estados Unidos. Apesar da “proclamação de emancipação” ter sido emitida pelo presidente Abraham Lincoln, em 1862, levou mais de dois anos para que a notícia se espalhasse e a liberdade fosse efetivamente alcançada em todos os estados.
O 19 de junho de 1865 marcou um momento histórico para a comunidade afro-americana, pois simbolizou o fim de um sistema opressivo que havia privado milhões de pessoas de sua liberdade e dignidade. O Juneteenth se tornou uma ocasião de alegria, gratidão e reflexão, que mesmo comemorada informalmente, honrava a luta e a resiliência do povo negro ao longo dos anos.
Na atualidade, no entanto, celebrar o que deveria ter sido sempre direito básico daquele povo não parece suficiente. Com o prestígio de feriado nacional (aqui chamado “federal”), o Juneteenth adquiriu caráter de luta e ativismo pelos direitos atuais dos negros americanos, e por reparações sobre os danos passados.
Tornou-se também uma data de riquíssimo valor cultural. Desfiles, festivais, palestras, apresentações musicais e danças são complementados por rodas de conversas, onde a comunidade se reune para compartilhar histórias, e lembrar o passado com orgulho, não apenas dor. E o que um dia foi uma celebração afro-americana, hoje é um momento de união e reflexão para toda a sociedade. Uma ocasião para reconhecer que a luta pela igualdade racial ainda está em andamento e que devemos trabalhar juntos para construir um mundo mais justo e inclusivo.
Com isso em mente, é uma oportunidade imperdível de educar as novas gerações —nossos futuros líderes —sobre a importância da igualdade, justiça e respeito pela diversidade. Refletir sobre as injustiças do passado é um lembrete de que a igualdade e a liberdade são direitos fundamentais que devem ser garantidos a todos os seres humanos, independente de sua raça, origem ou cultura.
O Juneteenth nos faz olhar adiante; e nos inspira a esquecer diferenças e pensar como um todo. Lutando não por A ou por B, mas pelos direitos “humanos.” Por liberdade, respeito e dignidade —em qualquer tempo e lugar.