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Publicado em 6/10/2024 as 1:00pm

Coluna Liza Andrews: Brasileiros Que Nunca Fizeram Cinema Concorrerão a Prêmios em Cannes

Já imaginou sua história —biográfica ou de ficção —sendo exibida numa tela de cinema?...


Já imaginou sua história —biográfica ou de ficção —sendo exibida numa tela de cinema? A maioria de nós pode jurar que tal dádiva limita-se a um privilegiado grupo: os Spilbergs, Tarantinos, e Scorseses. É ainda mais impossível imaginar a façanha, se você é alguém que não entende nada da arte em questão.

A novidade é que a tecnologia abraçou a arte, e juntas estão trazendo oportunidades igualitárias até mesmo no seletivo firmamento dos diretores de cinema. Em outubro, acontecerá o Primeiro Festival Brasileiro de Cinema Celular em Nova Iorque. Não precisa ter experiência! O diretor de cinema húngaro-americano Karl Bardosh, uma das estrelas acadêmicas da Escola de Cinema da New York University, NYU, dará 3 dias de curso para iniciantes aprenderem a fazer e editar um curta metragem de poucos minutos no celular.  No último dia, os alunos terão produzido um filme; e os 3 melhores serão exibidos no Festival Du Marche em Cannes, concorrendo a prêmios.

Este programa inédito (worskshop + festival) foi patrocinado por um grupo de agências e apoiadores culturais americanos, e irá proporcionar aos 12 brasileiros contemplados com as vagas gratuitas o sonho de deixar sua marca na “telona”.

O festival acontecerá dos dias 21 a 28 de outubro e os aprendizes poderão criar um filme de até três minutos em qualquer gênero. O participante que mais se destacar durante o workshop será entrevistado no programa da apresentadora brasileira Liza Andrews, na TV americana, com transmissão simultânea (pelo Premiere do show) para o restante do mundo.

O Diretor Bardosh já implementou a modalidade de curta metragem gravado inteiramente em celular em diversos países, porém, por coincidência, foi a executar um filme sobre o cineasta brasileiro Arnon Dantas— que vivia entre Miami e o Rio de Janeiro —que lhe surgiu a idéia de criar cinema usando telefones celulares. Isso, muito antes da criação dos SmartPhones.

Vale ressaltar, que juntamente com a revolução causada pelo primeiro Iphone em 2011, a explosão das redes sociais, que hoje ditam nosso estilo de vida, democratizaram a forma de criar cinema. Hoje, a maioria dos jovens sonha em ser um influenciador, e grande parte dos que ainda não são possui pelo menos alguma experiência na frente das câmeras. Isso facilita dois aspectos:

1: Técnico: com a facilidade de manejar equipamentos, aplicativos e saber como aparecer diante das lentes de forma carismática e atraente, o futuro diretor ja traz consigo conhecimentos que o diferenciam da massa.

2: Fluência verbal e mental:  Os que fazem videos para as redes sociais com frequência adquirem —sem perceber — uma habilidade avançada de contar histórias. Este talento é essencial para o sucesso de uma história que ao ser exibida na tela, seja capaz de conectar-se emocionalmente com a audiência.

E uma curiosidade: com o avanço das câmeras de foto e video dos smartphones, empresas de tecnologia começaram a criar interessantes acessórios para elevar a qualidade dos filmes feitos no celular. Atualmente, há estabilizadores que simulam as “dollies” usadas para mover e estabilizar as câmeras em Hollywood. E uma variedade de lentes que podem ser embutidas nos telefones celulares para ampliar o ângulo de filmagem, sem as distorções pertinentes ao modo análogo oferecido pelos fabricantes dos Smartphones para uso comum.

A idéia de se fazer cinema no celular acabou tão difundida que saiu do âmbito dos pequenos diretores que precisavam reduzir custos e foi testada —como desafio, ou puro modismo— por diretores famosos, acostumados com altas verbas, como o Americano Steven Soderbergh. Seu enervante suspense “Unsane,” conta a história de uma jovem que escapa de sua cidade por causa de um stalker (assediador). Tendo a impressão de ainda estar sendo seguida por ele, ela é acidentalmente internada numa instituição mental, onde é confrontada com seu maior temor. O filme que explora se o medo da personagem é real ou imaginário, acontece majoritariamente dentro da clínica; e demonstra as variadas e interessantes formas de quebrar a monotonia, explorando ângulos, lentes e “long takes” usando o Smartphone. Vale conferir. Disponível na Netflix americana.

Em suma, a segunda década do novo milênio vem provando que quem deseja tornar-se um diretor de cinema não precisa mais passar pelas provações dos poucos eleitos que ficaram famosos no passado. Com boas idéias e um equipamento de baixo custo (nos parâmetros da indústria), qualquer um pode ter sua voz ouvida, e ser premiado em festivais internacionais. No mês de outubro, vamos torcer pelos nossos amigos brasileiros!

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