Publicado em 19/12/2024 as 10:00pm
Coluna Cataldi: Um gole de Prada, Gucci ou Dior?
O luxo nunca foi tão acessível – ou pelo menos, aparentemente. Na era das redes sociais,...
O luxo nunca foi tão acessível – ou pelo menos, aparentemente. Na era das redes sociais, em que a imagem vale mais que mil palavras, as grandes marcas de luxo encontraram uma maneira engenhosa de atrair novos públicos: o café. Mas não qualquer café. Estamos falando de um espresso com espuma que exibe o logotipo da Miu Miu, bolinhos refinados assinados pela Ralph Lauren e ambientes que parecem saídos de uma passarela da Prada.
Essa estratégia, apelidada por muitos como "Little Treats" (pequenos mimos), é uma forma de oferecer ao consumidor comum uma fatia, ou melhor, um gole, do sonho de luxo. Afinal, nem todos podem desembolsar milhares de dólares por uma bolsa da Gucci ou um vestido Dior, mas muitos podem pagar por uma xícara de café estilizada a preços nada modestos, porém acessíveis em comparação aos itens tradicionais dessas grifes.
Os cafés da Prada, Louis Vuitton, Gucci e Dior são cuidadosamente projetados para oferecer não apenas sabor, mas uma experiência completa – e extremamente instagramável. O cenário é sempre deslumbrante: xícaras decoradas com o icônico monograma, mesas de mármore impecavelmente dispostas num ambiente de iluminação aconchegante e uma paleta de cores que grita elegância. É um convite irresistível para uma foto que enche os olhos e ganha muitas curtidas.
Por trás dessa aparente simplicidade, há uma estratégia complexa. Essas marcas entendem que o desejo por luxo não se limita apenas ao consumo de objetos caros; é uma experiência, uma narrativa, um símbolo de status. Ao criar espaços onde o público pode consumir algo "de luxo", ainda que acessível, elas ampliam seu alcance e plantam a semente do desejo nos consumidores. É como uma prévia tangível do que seria fazer parte do clube exclusivo de quem pode ter tudo.
Não é coincidência que a indústria de "luxo acessível" cresça vertiginosamente. Relatórios indicam que o mercado global de cafés finos movimenta bilhões de dólares anualmente. Para as marcas, cada xícara vendida é mais que uma receita – é uma oportunidade de fidelizar o cliente, gerar engajamento nas redes sociais e manter sua imagem sempre em alta.
Por outro lado, críticos argumentam que esse movimento pode banalizar o conceito de exclusividade. Mas quando o logotipo da Dior está tanto na passarela quanto na espuma de um cappuccino, ele perde parte de sua magia? Ou, ao contrário, essa democratização fortalece a marca ao expandir seu alcance e relevância?
Enquanto essa discussão se desenrola, uma coisa é certa: o novo luxo não está apenas no preço, mas na experiência. E, se o "cafezinho com status" é um reflexo disso, as marcas estão mais do que dispostas a nos servir essa ideia – com ou sem açúcar.
Então na próxima vez que você avistar uma fila em frente a um café desses com clientes ansiosos por pagar preços premium pela xícara, lembre-se: ali não se vende apenas café. Vende-se um momento, uma foto, e a sensação de pertencer, ainda que por um instante, ao cobiçado mundo do glamour simbólico.
Claudia Cataldi é Cientista Política Especialista em Governança e Compliance