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Publicado em 19/12/2024 as 9:30pm

Coluna Cataldi: Vida sem dono. Isso já existe!

Em um mundo dividido por fronteiras, economias e ideologias, existe um lugar que desafia o...


Em um mundo dividido por fronteiras, economias e ideologias, existe um lugar que desafia o status quo: Auroville, "a Cidade do Amanhecer". Localizada no sul da Índia, no estado de Tamil Nadu, essa comunidade internacional foi fundada em 1968 com um propósito ousado: criar uma sociedade onde a união humana seja o objetivo principal, acima de diferenças de nacionalidade, religião ou classe social.

Auroville, concebida pela filósofa Mirra Alfassa, conhecida como "A Mãe", e inspirada nos ensinamentos de Sri Aurobindo, é um experimento social e espiritual sem paralelo. Reconhecida oficialmente pela UNESCO, a cidade reúne cerca de 3.000 residentes de mais de 50 países, vivendo em um modelo que desafia conceitos tradicionais de governança, economia e propriedade.

Auroville não utiliza dinheiro da maneira convencional. Em vez disso, a comunidade funciona com um sistema de economia compartilhada. Os residentes têm acesso a bens e serviços por meio de um "cartão Auroville", que substitui transações monetárias diretas. A ideia é eliminar a obsessão pelo lucro e incentivar a colaboração. Embora o sistema ainda dependa parcialmente de doações externas e contribuições voluntárias, a experiência é uma janela para o que pode ser uma alternativa ao capitalismo.

Em Auroville, ninguém é proprietário de terras ou casas. Todo o território pertence à Fundação Auroville, sob o controle do governo indiano. Os moradores são considerados "zeladores" das propriedades, responsáveis por cuidar e preservar o espaço que ocupam. Essa abordagem elimina disputas por posse e promove uma sensação de comunidade e responsabilidade coletiva.

No centro da cidade encontra-se o Matrimandir, uma estrutura dourada que parece saída de um filme de ficção científica. Este "templo da Mãe" não é um local de culto religioso, mas um espaço para meditação e introspecção. O interior é minimalista, com uma gigantesca esfera de cristal que reflete a luz solar, criando uma atmosfera de tranquilidade absoluta. É o símbolo da busca espiritual que permeia a vida em Auroville.

Auroville é também um modelo de sustentabilidade. A cidade foi construída em uma região originalmente árida, mas os moradores revitalizaram a área plantando mais de dois milhões de árvores, criando um microclima único. Hoje, Auroville é um laboratório vivo de práticas ecológicas, desde arquitetura sustentável até agricultura orgânica e energias renováveis.

Governar uma comunidade sem líderes oficiais é um desafio, mas Auroville tenta. Decisões são tomadas coletivamente em assembleias, e todos têm voz. A governança é vista como um experimento contínuo, e a busca por consenso reflete o compromisso com a unidade e o respeito mútuo.

Embora inspire-se em ensinamentos espirituais, Auroville não adota uma religião específica. É um espaço onde cada indivíduo é livre para buscar a sua própria verdade. Esse ecletismo atrai pessoas de todas as partes do mundo, criando um mosaico cultural e espiritual único.

Auroville não está isenta de desafios. A dependência de doações externas, tensões culturais e diferenças de interpretação sobre os ideais originais de "A Mãe" são questões debatidas internamente. Ainda assim, a cidade continua sendo um símbolo de esperança para aqueles que acreditam em um futuro mais unido e equitativo.

Visitar Auroville é como entrar em uma realidade paralela. Um lugar onde as diferenças são celebradas, o materialismo é questionado e a cooperação humana é o principal objetivo. Em tempos de divisões crescentes, a Cidade do Amanhecer nos convida a imaginar: e se o mundo pudesse ser assim?

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