Coluna Debora Corsi: Complexo de Adão

A Bíblia conta, no livro de Gênesis, a história do primeiro casal da Terra: Adão e Eva. No Jardim do Éden, tudo corria bem. Adão tinha a tarefa de nomear os animais, a terra era fértil, repleta de frutos, e a vida do casal era perfeita. Não sabemos por quanto tempo viveram assim, mas, certo dia, Eva estabeleceu um diálogo inusitado com uma serpente.

Com astúcia, a serpente a persuadiu a comer do fruto proibido, argumentando que Deus a estava privando de um conhecimento maior. Convencida de que nada lhe aconteceria, Eva cedeu à tentação, provou do fruto e o ofereceu a Adão, que igualmente o consumiu, desobedecendo ao Criador.

Imediatamente, ambos tomaram consciência de sua nudez e, envergonhados, esconderam-se entre as árvores. Então, Deus os chamou:

— Adão, onde estás?

Temeroso, Adão respondeu que se ocultara por vergonha. Diante disso, Deus indagou:

— Quem te revelou que estavas nu?

Nesse momento, a tentativa de transferir a culpa se instaurou. Adão, em vez de assumir sua responsabilidade, apontou para Eva:

— A mulher que me deste por companheira me deu do fruto, e eu comi.

Com essa afirmação, Adão não apenas transferiu a responsabilidade para Eva, mas também insinuou que a culpa era do próprio Deus, que havia criado e lhe dado a mulher. Quando Deus perguntou a Eva, ela seguiu o mesmo padrão, culpando a serpente:

— A serpente me enganou, e eu comi.

A serpente, que foi a verdadeira causadora da destruição, recebeu do Criador a sentença irrevogável.

Essa narrativa bíblica transcende o tempo e reflete um padrão de comportamento humano presente até os dias atuais. Muitos indivíduos, independentemente do gênero, demonstram aquilo que podemos denominar "Complexo de Adão". Mas como esse comportamento se manifesta?

1. Não assumem responsabilidades

Pessoas com o Complexo de Adão não assumem a responsabilidade por seus atos. Quando colocadas em posições de liderança, delegam suas obrigações sem compromisso real. Se algo dá certo, usufruem dos méritos; se dá errado, buscam culpados. Preferem transferir sua responsabilidade a terceiros, fugindo da autorreflexão e do dever de corrigir suas falhas.

2. Vazios de compaixão

Ao culpar Eva, Adão não demonstrou qualquer compaixão por ela. Se tivesse assumido a responsabilidade, talvez a história tivesse um desfecho diferente. Da mesma forma, aqueles que apresentam esse comportamento não se preocupam em preservar o outro. Na primeira oportunidade, fazem questão de relembrar falhas passadas e ressaltar os erros, ignorando as inúmeras vezes em que foram acertadas decisões. Para essas pessoas, um único equívoco se sobrepõe a uma trajetória inteira de acertos.

3.  Fogem do confronto 

A primeira reação de Adão foi se esconder atrás de uma árvore. Em vez de enfrentar a situação, ele fugiu. Isso demonstra covardia e falta de liderança. Pessoas com esse perfil fazem o mesmo: evitam o confronto direto, deixam que outros assumam as consequências e, muitas vezes, prejudicam aqueles que os cercam.

Esse comportamento é prejudicial em diversos contextos:

• No ambiente de trabalho, no ambiente de trabalho, são profissionais que jamais assumem a culpa e permitem que outros sejam responsabilizados por falhas que não cometeram.
• Nos relacionamentos, são aqueles que, ao invés de resolver os conflitos de forma madura, colocam sobre o cônjuge o peso de suas próprias ações
• No círculo de amizades, são “amigos” desleais, que apenas permanecem ao lado enquanto tudo está favorável, mas apontam culpados quando algo dá errado

O caminho para a mudança

Pessoas com o Complexo de Adão são corrosivas, pois seu comportamento pode causar sofrimento aos que estão ao redor. O verdadeiro caráter manifesta-se na capacidade de admitir erros, aprender com eles e buscar a evolução. Um ser humano nobre é aquele que reconhece suas limitações e decide mudar, não apenas por si mesmo, mas para o bem do próximo.