Publicado em 17/04/2025 as 9:30am
A Guerra Tarifária de Trump – Protecionismo, Pressão e Consequências
Desde seu retorno à Casa Branca, Donald Trump tem conduzido uma política econômica centrada...
Desde seu retorno à Casa Branca, Donald Trump tem conduzido uma política econômica centrada em tarifas alfandegárias agressivas, marcando um novo capítulo de protecionismo norte-americano. Em poucos meses, o governo impôs tarifas sobre uma vasta gama de produtos e países, com a justificativa de “proteger o trabalhador americano”, conter práticas comerciais desleais e fortalecer a indústria doméstica. No entanto, ao analisarmos o que foi feito até agora, suas intenções mais profundas e os efeitos emergentes, surgem sinais mistos sobre a real eficácia dessa estratégia.
Em março, Trump reinstituiu tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio importados. Logo depois, ampliou sua ofensiva com uma tarifa base de 10% sobre praticamente todas as importações, além de sobretaxas que variam de 11% a 50% sobre produtos de 57 países. A medida mais simbólica foi a tarifa de 25% sobre automóveis importados – afetando diretamente aliados comerciais importantes, como a União Europeia, Coreia do Sul e Japão. Contudo, antes que essas tarifas começassem a causar maiores danos diplomáticos, o governo suspendeu sua aplicação por 90 dias para todos os países, com uma exceção notável: a China.
A relação com o gigante asiático continua sendo o foco central da política externa e econômica de Trump. Em discursos, o presidente associou as tarifas não apenas a questões comerciais, mas também a temas sensíveis como a crise do fentanil – insinuando que a China é corresponsável pelo tráfico da substância. A intenção é clara: criar um ambiente de pressão constante, que force Pequim a renegociar termos comerciais e adotar medidas mais alinhadas com os interesses norte-americanos.
No curto prazo, as tarifas podem gerar ganhos políticos para Trump. Elas reforçam sua imagem de defensor da classe trabalhadora e criam um discurso simples, porém poderoso: “os outros países se aproveitaram dos EUA, agora é hora de reagir”. Além disso, as suspensões parciais mostram uma estratégia negociadora típica de Trump: aplicar pressão máxima para depois oferecer concessões em troca de vantagens diplomáticas ou comerciais. Vários países já convocaram rodadas de negociações, sinalizando que estão dispostos a conversar e chegarem a novos acordos.
No entanto, os efeitos econômicos já começam a se manifestar. Tarifas significam aumento de custos para importadores e consumidores, potencial alta na inflação e disrupção nas cadeias de suprimentos. Empresas americanas que dependem de insumos estrangeiros enfrentam incertezas para planejar investimentos. Já os países atingidos – especialmente a China – têm respondido com retaliações, elevando o risco de uma guerra comercial prolongada.
No longo prazo, o protecionismo pode ter efeitos contraproducentes. Embora possa incentivar a produção interna em alguns setores, tende a prejudicar a competitividade da economia americana como um todo. Além disso, ao fragilizar alianças tradicionais e afastar investidores, o país pode enfrentar instabilidade econômica e diplomática.
A política tarifária de Trump parece ter menos a ver com eficiência econômica e mais com uma mensagem ao mundo de que os EUA ainda têm força para movimentar o comércio global – o que não deixa de ser, em última análise, um posicionamento político. O futuro dessa estratégia dependerá da resposta global e da capacidade dos EUA de equilibrar interesses econômicos reais com objetivos políticos imediatos.
Ricardo Miranda é economista com MBA em Finanças e Mestrado em Administração
Quem tiver alguma sugestão de tema relacionado à Economia e Finanças, ou tenha alguma dúvida específica, entre em contato: ricardo@simplekeyrealty.net