Coluna Arilda: Em uma noite inesquecível, no dia 09 de maio, o Carnegie Hall recebe de volta um de seus mais ilustres convidados: o Maestro João Carlos Martins!

Após anos de dedicação e superação, o Maestro João Carlos Martins retorna triunfante aos palcos em uma turnê internacional, trazendo consigo uma bagagem de talento, paixão e resiliência. Com sua maestria inigualável à frente da orquestra, ele promete emocionar o público nova-iorquino mais uma vez, reafirmando seu lugar entre os grandes maestros da história. Recentemente, tive a honra de visitá-lo em sua residência em São Paulo para uma entrevista exclusiva. Essa experiência foi, sem dúvida, inesquecível para mim. Aqui está um resumo de nossa conversa.

Carreira e Legado

Maestro, após uma carreira de mais de 60 anos, o que você considera seu maior legado para a música clássica brasileira?

– Talvez “legado” seja uma palavra exagerada, mas eu tenho certeza que contribuí para a democratização da música clássica no Brasil.

Qual é a maior mudança que você observou na forma como a música clássica é apreciada e consumida ao longo da sua carreira?

– Realmente, nós tivemos um período em que a música clássica era um pouco mais elitista no século XX. Mas posso dizer que atualmente a música clássica está atingindo todos os segmentos da sociedade, não só na América do Sul, na Europa, na Ásia, ou seja, em todos os continentes.

Última Turnê Internacional e Despedida

– O que o motivou a decidir que essa seria sua última turnê e como você se sente em relação a essa despedida dos palcos internacionais?

Meu Deus! Depois de 4.000 apresentações em toda a minha vida, afinal, iniciei minha carreira aos 8 anos de idade, posso dizer que vou completar 85 anos no dia 25 de junho. Então, é hora de eu iniciar uma nova fase na minha vida, que é a fase motivacional, e me preocupar com a educação musical para jovens em nosso país.

– Qual é o programa que você escolheu para essa turnê de despedida e por quê?

Bem, não poderia ter um programa sem Johann Sebastian Bach e sem Villa-Lobos. Assim, na primeira parte, eu dirigirei a orquestra com obras de Bach e Villa-Lobos. E na segunda parte, escolhi 4 peças populares que se tornaram clássicos: Tom Jobim, Piazzolla, John Williams e Morricone. Na primeira parte, como maestro, e na segunda, ao piano.

Experiência e Sabedoria

– Ao longo de sua carreira, você trabalhou com inúmeros músicos e orquestras. Qual é a lição mais importante que você aprendeu com essas colaborações?

Com essas colaborações, o que eu pude aprender é que um músico, na realidade, é um missionário. E quando você acaba se encontrando com músicos profissionais que amam o seu ofício, a paz, a harmonia, o amor e, antes de tudo, a cumplicidade fazem parte dessa colaboração. Então, todas as colaborações que eu tive foram profundamente frutíferas ao longo da minha vida.

– Como você acredita que a música pode continuar a inspirar e transformar vidas, especialmente em um mundo cada vez mais digital?

Eu sempre digo que a música explica que Deus existe. E ela tem esse poder de inspirar e transformar vidas. E eu pude acompanhar esse processo ao longo da minha carreira durante esses 60 e poucos anos. Mais de 60! 75 anos! Meu Deus!

Vida Pessoal e Influências

– Quais são as maiores influências musicais que você teve ao longo da sua carreira e como elas moldaram o seu estilo e abordagem?

A maior influência musical que eu tive durante a minha carreira foi no início com o meu professor José Kliass. Ele veio para o Brasil e acabou se tornando o melhor professor de piano em nosso país. E depois tive uma influência muito grande no único encontro com o nosso compositor maior, Villa-Lobos.

– Como você gerenciou o equilíbrio entre a sua vida pessoal e profissional ao longo dos anos?

Eu tenho toda a humildade para reconhecer que eu não soube gerenciar o equilíbrio entre minha vida pessoal e profissional no começo da minha carreira, mas nada como a maturidade em uma pessoa. E finalmente eu posso dizer que hoje, tranquilamente, eu consigo gerenciar o equilíbrio entre a minha vida pessoal, a minha vida profissional e a minha carreira.

Futuro e Legado

– Agora que você está se despedindo dos palcos, como você gostaria de ser lembrado pelas futuras gerações de músicos e amantes da música?

Para aqueles que gostam de música, eu gostaria simplesmente de ser lembrado que, apesar de todas as adversidades, eu jamais me afastei do meu ofício, ou seja, a música. Tive que interromper duas vezes a minha carreira por 7 anos, mas voltei com uma força maior e, antes de tudo, procurando transmitir emoção para o meu público. Graças a Deus, as minhas gravações foram realizadas em períodos em que eu podia tocar sem a minha maior adversidade, que é a distonia focal do músico. E, assim sendo, pude deixar gravações das quais eu tenho muito orgulho.

– Qual é o conselho que você daria a jovens pianistas e maestros que estão começando as suas carreiras?

Estudar, estudar e estudar!

Música e Interpretação

– Você é conhecido em todo o mundo por suas interpretações de Bach. Qual é o segredo para transmitir a essência da música desse compositor?

Em primeiro lugar, eu tive a oportunidade de ser membro do júri do principal Festival de Bach, o “Bach International Competition” em Leipzig, uma vez como jurado e outra vez como presidente do júri. O grande segredo é o intérprete procurar fazer uma viagem ao universo musical de Bach e conseguir combinar a individualidade do intérprete com a personalidade do compositor.

– Como você se prepara para uma apresentação no Carnegie Hall? Qual é o seu processo de ensaio e preparação?

Por incrível que pareça, eu considero o Carnegie Hall o grande templo da música no mundo, mas o processo de ensaio e preparação é o mesmo para qualquer teatro, em qualquer lugar que você vá tocar. Seja numa favela, seja no Carnegie Hall, a missão do artista é dar o melhor de si, qualquer que seja a apresentação. Evidentemente, no Carnegie Hall, você vai ter uma relação com o público que vivencia a música e vivencia esse templo da música como em poucos lugares do mundo.

– Qual é a sua abordagem para interpretar obras de compositores brasileiros como Villa-Lobos ou Carlos Gomes?

Antes de tudo, é mostrar a importância da brasilidade e a importância que compositores como Villa-Lobos e Carlos Gomes tiveram no cenário internacional.

– Podemos aguardar alguma surpresa no Carnegie Hall?

Claro que sim, mas como é surpresa, vocês saberão no dia do concerto.

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