Publicado em 18/10/2016 as 1:00am
Filho de imigrante indocumentado, kicker dos Bucs fecha jornada do pai tentando se provar um prodígio
Aguayo foi de vilão a herói e garantiu a vitória do Tampa Bay Buccaneers sobre os Panthers
Bola na linha de 38 jardas, um chute até que tranquilo para ganhar a partida. Ainda mais para um kicker considerado um verdadeiro prodígio, dono de algumas das melhores marcas da história do futebol americano universitário.
Mas uma desconfiança paira no ar no Bank of America Stadium. Não por menos. Em cinco semanas de jogos, o kicker estava muito longe de ser o tal prodígio, com só 50% de aproveitamento nos chutes até ali. E com dois field goals perdidos naquela mesma partida.
Desta vez, porém, o chute sai perfeito, no meio do Y, e Roberto Aguayo respira aliviado com a vitória - e também com o próprio emprego - garantida ao Tampa Bay Buccaneers.
Aquele chute carregava com ele uma história e tanto. Não só de quem chutava, mas também de uma família que poderia muito bem representar milhares de outras.
O nome, como se pode perceber, está longe de ser americano. E realmente não é. Roberto Aguayo Sr., o pai do kicker dos Bucs, foi mais um dos muitos que se aventuraram pela fronteira entre México e Estados Unidos. Não uma, não duas, mas três vezes.
Cansado das condições de vida que tinha no México, ele tentou a travessia pela primeira vez em 1984. Foi rapidamente deportado. Tentou de novo em 1985 e acabou deportado 10 meses depois de entrar nos Estados Unidos. A última tentativa foi em 1986. E desta vez ele se deu bem. Conseguiu emprego em uma fazenda e foi beneficiado pela Reforma de Imigração de Ronald Reagan, que o permitiu ficar no país com um visto.
Com ele, Roberto Aguayo levou aos Estados Unidos dois sonhos para os filhos: que eles terminassem os estudos e que pudessem jogar futebol, coisas que ele mesmo nunca havia tido a oportunidade.
Aos poucos, o sonho dele foi se tornando realidade, só que de maneira um pouco diferente. Roberto Aguayo, o filho, até começou no futebol, mas logo acabou no futebol americano. Aos 8 anos, juntou as duas paixões e começou a chutar a bola oval.
Em casa, o pai deu todo o apoio que podia. Construiu algo que servia para os dois esportes, com um gol de futebol embaixo e um Y de futebol americano em cima.
Os treinos, que sempre se estendiam da escola para casa, deram certo. Roberto Aguayo fez história no futebol americano universitário. Em Flórida State, acertou 69 dos 78 field goals que tentou, sendo perfeito dentro das 40 jardas. Também nunca errou nenhum de seus 198 extra points.
Foi um dos melhores da história do esporte universitário e acabou selecionado na segunda rodada do draft deste ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, um kicker não era escolhido em uma das duas primeiras rodadas desde 2005, quando o new York Jets ficou com Mike Nugent.
A história de contos de fada, porém, logo ficou mais próxima de um pesadelo. Aguayo teve uma primeira semana perfeita (um field goal e quatro extra points), mas falhou em sequência, errando um chute de 45 jardas contra o Arizona Cardinals. Na semana 3, desperdiçou um extra point e também um field goal. Perdeu quatro pontos que poderiam garantir ao menos uma prorrogação na derrota por 37 a 32 para o Los Angeles Rams.
Contra os Broncos, só chutou (e acertou) um extra point.
E assim chegou para o jogo diante de Carolina. Acertou um chute de 35, mas errou um de 33 jardas. Acertou outro de 35, mas voltou a errar um de 46. Estava prestes a terminar mais uma vez como vilão e de ter a corda apertada em seu pescoço. Mas viu a defesa aparecer na hora certa, contou com uma boa campanha do companheiro James Winston e teve uma nova chance a três segundos do jogo.
"Goooooooooooool. Vai Aguayo!", narrou Everaldo Marques.
E o kicker ganhou mais uma chance de terminar de forma bonita a jornada iniciada pelo pai na fronteira norte-americana.
Fonte: Da redação