Publicado em 20/10/2020 as 11:30pm
Coluna Esporte Total
Pandemia ameaça sobrevivência dos clubes Modelo clube-empresa pode ser solução no Brasil? ...
Pandemia ameaça sobrevivência dos clubes
Modelo clube-empresa pode ser solução no Brasil?
A transformação de clubes em empresas vai proporcionar: melhoria na gestão, maior transparência e maior competitividade
A Câmara dos Deputados aprovou em 2019 um projeto que permite aos clubes brasileiros de futebol se tornarem empresas, modelo já difundido na Europa com grande sucesso. Os times brasileiros, que em sua grande parte são entidades sem fins lucrativos, se transformariam em sociedades anônimas ou limitadas e poderiam fazer fusões, cisões ou incorporações, buscando atrair mais investimentos. Mas nenhum clube seria obrigado a aderir ao modelo, que se tornaria mais uma alternativa à disposição. Especialistas entendem que: ”O projeto define um regime tributário especial que permite aos clubes que decidirem se transformar em empresas recolher menos impostos que uma empresa comum, mas apenas pouco acima das associações (sem fins lucrativos). Este é o grande motivo para que haja uma lei, já que atualmente qualquer clube pode ser empresa. Mas o projeto inclui alguns incentivos às associações que quiserem se transformar, como facilidade de pedir recuperação judicial e mudanças nas relações trabalhistas, segundo o especialista e economista Cesar Grafietti.
Segundo o especialista, o time que virar empresa ficaria “independente do clube social, permitindo gestão mais eficiente e transparente, evitando o que ocorreu com o Cruzeiro na gestão passada”. A diretoria teria responsabilidade fiscal e jurídica. Além disso, ficaria apta a receber aportes de capital, ganhando “capacidade de pagar as dívidas e aumentar o nível de investimento”.
No Brasil, algumas equipes já adotaram o modelo clube-empresa, o caso mais conhecido e eficiente é o do Red Bull Bragantino, formado quando a fabricante de energéticos comprou o tradicional time de Bragança Paulista (SP) para facilitar seu acesso à primeira divisão do futebol brasileiro – a Red Bull também é dona do RB Leipzig, da Alemanha (que chegou às semi-finais da champions), e do RB Salzburg, da Áustria.
Futuro indefinido pós-coronavírus
Ainda não dá para ver com clareza como será o futuro pós-coronavírus. A projeção de especialistas é que haverá uma queda brusca, com o PIB do futebol a -5%, -7%, mas ainda há uma incógnita sobre como estará o consumo dos torcedores, a volta de público nos estádios (com a segunda onda da pandemia aproximando será praticamente impossível retorno do torcedor) e o investimento dos patrocinadores para o próximo ano. Uma certeza muitos tem, para o próximo ano as empresas não vão investir tanto como antes da pandemia no futebol.
Reinventar terá de ser o lema para o futebol brasileiro ter uma retomada financeira em meio a segunda onda ao impacto causado pela pandemia do novo coronavírus. Esta situação é claramente insustentável. Nenhum clube, seja qual for a sua dimensão ou nível de investimento, pode suportar uma ausência total ou parcial de receitas durante um longo período como o que estamos vivendo sem perspectiva de quando tudo vai terminar.
Clubes na marca do “pênalti”
Bem, olhando pelo que está acontecendo no mundo, há clubes que correm o risco de falir. Nos mercados mais desenvolvidos, você tem uma liga, que injeta dinheiro nos cofres dos clubes, ou os famosos torcedores investidores conhecidos como “mecenas”. O Flamengo, que reergueu sem ajuda de “mecenas”, mas, com gestão de qualidade, e por isso tem dinheiro em caixa. Mesmo assim, pediu um aporte financeiro bancário porque tem um custo operacional de R$ 50 milhões por mês (segundo o economista Cesar Grafietti). Ele precisa tanto quanto os outros. Entretanto, os outros não têm sequer uma receita definida, sem receita, público e consumo do torcedor, a situação vai agravar e muito em 2021.
Que a pandemia do novo coronavírus está impactando a grande maioria dos clubes não é novidade. Porém, o prejuízo financeiro pode ser maior do que muitos esperavam no Brasil. Flamengo, São Paulo e Internacional estão entre os clubes que mais vão perder, enquanto clubes que em plena pandemia estão recebendo aportes financeiros de investidores “mecenas” para contratar jogadores e pagamento de salários, podem aguardar que a conta vai chegar como TSUNAME podendo comprometer no futuro toda estrutura financeira dos clubes. Em contrapartida, clube como o Cruzeiro que por na gestão corrupta e temerária, onde seus ex-diretores foram denunciados pelo MP de Minas Gerais, disputa a segunda divisão está totalmente descapitalizado. Para não “quebrar” como a portuguesa e outros clubes Italianos, a solução e tornar clube-empresa. Como a marca ainda é forte no mercado futebolístico, não vai faltar investimento nacional e estrangeiro dos fundos milionários ou Sheiques dos Emirados Árabes.
De acordo com estudo publicado pela Sports Value, empresa especializada consultoria financeira e marketing esportivo, os vinte clubes da primeira divisão do Brasil podem perder um total de R$ 2.5 a 3 bilhões, fazendo com que a receita conjunta dessas equipes seja reduzida para R$ 3,6 bilhões ao final de 2020, frente a R$ 6,1 bilhões em 2019. Sobre os clubes brasileiros que mais terão dificuldades financeiras devido à pandemia do coronavírus, muitos vão estar na ‘marca do pênalti’ correndo um eventual risco de deixarem de existir.
Crônica:
Coluna Esporte Total
By: Roberto Vieira
Jornalista e comentarista esportivo