Publicado em 9/07/2017 as 8:04am
Deportação é "pena de morte" para adotados que passaram uma vida nos EUA
Poucas adoções internacionais poderiam ter sido tão desastrosas quanto a de Phillip Clay.
Em 1983, ele foi adotado aos 8 anos por uma família americana na Filadélfia. Vinte e nove anos depois, em 2012, após numerosas prisões e uma luta contra o vício em drogas, ele foi deportado para seu país de origem, a Coreia do Sul, onde não sabia falar a língua local, não conhecia ninguém e não recebeu atendimento apropriado para problemas de saúde mental, incluindo transtorno bipolar e dependência de álcool e drogas.
Em 21 de maio, Clay pôs fim à sua vida, pulando do 14º andar de um prédio de apartamentos no norte de Seul. Ele tinha 42 anos.
Para defensores dos direitos dos adotados internacionais, o suicídio foi um lembrete doloroso de um problema que os Estados Unidos precisam tratar de forma urgente: adotados do exterior cujos pais não lhes providenciaram cidadania americana. A Campanha de Direitos dos Adotados, um grupo de defesa, estima que 35 mil adotados adultos nos Estados Unidos podem carecer de cidadania.
Acredita-se que Clay seja apenas uma dentre dezenas de pessoas adotadas quando crianças por famílias americanas, que foram deportadas para os países de origem que deixaram décadas atrás ou enfrentam deportação após serem condenadas por crimes na idade adulta. Algumas nem mesmo sabiam que não tinham cidadania americana até receberem a ordem de deportação.
Adotados de outros países, como Vietnã, Tailândia e Brasil, enfrentam deportação. Mas o simples número de crianças adotadas da Coreia do Sul, antes uma das principais fontes de crianças colocadas para adoção por estrangeiros, a torna o exemplo mais visível da questão, e dos enormes desafios enfrentados quando tentam se adaptar a uma cultura estranha, dessa vez com pouca ou nenhuma ajuda.
Muitos não têm para onde ir, com frequência vivendo nas ruas. Na Coreia do Sul, um deportado cumpriu pena de prisão por roubar um banco com uma arma de brinquedo. Outro, que como Clay tinha problemas psiquiátricos, foi indiciado duas vezes por agressão.
"A deportação é como uma pena de morte para eles", disse Hellen Ko, conselheira-chefe dos Serviços de Adoção da Coreia, uma agência do governo, que monitorou o caso de Clay. "Eles tiveram dificuldade para se ajustar à vida na América. Mas fica ainda pior quando voltam para cá."
O governo sul-coreano não sabe quantas das 110 mil crianças sul-coreanas adotadas por famílias americanas desde os anos 50 foram deportadas. Ele documentou apenas seis nos últimos anos, mas as autoridades reconhecem que o número pode ser muito maior. Estima-se que o status de cidadania nos Estados Unidos de 18 mil coreanos adotados seja desconhecido.
Quando os Estados Unidos deportam coreanos, o país não informa ao governo em Seul se foram adotados, segundo as autoridades sul-coreanas. Assim que voltam ao seu país de origem, eles estão por conta própria e com frequência permanecem não documentados.
"Eu tinha apenas US$ 20 comigo. Eu não sabia onde estava", disse Monte Haines, lembrando o dia em que chegou ao aeroporto de Seul após ser deportado em 2009, mais de 30 anos após ter sido adotado por uma família americana. "Não havia ninguém ali com quem conversar."
Os americanos adotaram mais de 350 mil crianças do exterior desde os anos 40, segundo a Campanha de Direitos dos Adotados, e os Estados Unidos deixaram aos cuidados dos pais a obtenção da cidadania para seus filhos.
Mas alguns não sabiam que seus filhos não se tornavam automaticamente cidadãos com a conclusão da adoção. Outros adiaram lidar com a burocracia complicada e cara, ou simplesmente abusaram e abandonaram seus filhos.
Fonte: Redação - Brazilian Times (Fonte: UOL)