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Publicado em 30/07/2018 as 4:00pm

'Mataram minha mãe e me separam de meu pai': o drama das crianças imigrantes nos EUA

Rosa espera o menino, que vem sozinho. O menino é bochechudo, tem covinhas e cabelos bem...

'Mataram minha mãe e me separam de meu pai': o drama das crianças imigrantes nos EUA Depois de ser separado do pai, Brayan ficou num centro de detenção para crianças migrantes.

Rosa espera o menino, que vem sozinho. O menino é bochechudo, tem covinhas e cabelos bem pretos. É seu neto, que ela não vê há 11 anos e de quem vai cuidar de agora em diante.

Já tinham se passado duas horas e o menino não chegava. Rosa, aliás, havia chegado antes do horário no aeroporto, porque estava ansiosa.

Os voos aterrissam e pela porta saem famílias com mais crianças que adultos. Os pequenos carregam mochilas com ilustrações de desenhos animados, trajam bermudas coloridas e ficam olhando a loja do Mickey Mouse que fica logo no portão. Muitos estão em Orlando para visitar a Disney.

No meio de todo mundo, de repente aparece um menino sozinho. "É o Brayan", disse Rosa. "É o meu menino."

Ela corre até ele o abraça. "É idêntico às fotos, igualzinho ao pai", me diz a hondurenha, que tem 45 anos e seis filhos.

"Vó", diz o menino, fixando o olhar nela. Passageiros ao redor tiram fotos, e vários me perguntam se ele é uma das crianças separadas dos pais por Donald Trump.

Brayan tem 11 anos, e a primeira vez que subiu num avião foi há quase três meses, quando o separaram do seu pai, José, na fronteira dos Estados Unidos, e o enviaram a um refúgio para crianças migrantes em Maryland, no leste do país.

Brayan também é uma das mais de 2.500 crianças que o governo dos EUA separou de seus pais entre abril e junho ao endurecer a política de imigração.

Em meados de junho, o presidente americano reverteu a prática, após uma onda de críticas e uma série de questionamentos legais. Mas muitas crianças ainda não estão com suas famílias.

O governo teve até quinta-feira para liberar os menores de idade cujos pais são elegíveis para recebê-los de volta.

A administração Trump disse que devolveu mais de 1.800 crianças às famílias.

Brayan está entre eles, o que faz dele uma criança de sorte. "Sorte", levando em conta que seu pai foi deportado e ele não poderá vê-lo por anos e que sua mãe foi assassinada em Honduras e seu corpo, jogado em um poço.

Brayan fala pouco e sorri enquanto brinca com seu irmão menor, Yair, que parece saber como vencê-lo no videogame que estão jogando no celular da sua avó.

É a primeira noite que ele passa nos Estados Unidos fora do abrigo onde, segundo o assistente social que cuidou do caso dele, não conseguia dormir, e ficava sentado na cama sem falar nada.

Agora se limita a me dizer que esteve lá por dois meses e meio, como se tivesse contado cada dia da sua estadia, e que não gostava da comida.

Conheci os irmãos quando José ainda os acompanhava. Estava em Puebla, México, numa das últimas etapas de uma caravana de centenas de migrantes que se mobilizou rumo ao norte.

Um parente de José ouviu na televisão que a caravana ajudava os imigrantes a cruzar a fronteira de maneira segura e com ajuda legal. Por isso, me conta Rosa, seu filho decidiu que era uma oportunidade de embarcar na viagem, junto com sua mulher, Nubia, e os dois filhos.

A família viajou a pé, de trem e de ônibus por quase 50 dias, até que chegou ao portão da fronteira de San Isidro (entre San Diego, na Califórnia, e Tijuana, no México). Ali lhes aconselharam que José e Brayan se apresentassem primeiro às autoridades, e Nubia e o pequeno Yair, de cinco anos, depois.

José seguiu a recomendação e no dia 4 de maio, junto com Brayan, disse a um funcionário de imigração que queria pedir asilo.

Ele me conta que não imaginava o que viria depois. Levaram o menino embora, e ele não entendeu o motivo.

"Tiraram ele dos meus braços, e eu vi ele em outra cela, chorando, e ninguém o ajudava", lembrou José, numa conversa ao telefone, no dia 12 de julho.

Na única chamada telefônica que lhe permitiram, José avisou sua mãe, Rosa, que haviam tirado o menino dele, e que ele havia assinado um papel em inglês que ele achou que poderia ser a única forma de ter o menino de volta. Vinte dias depois, no entanto, ele foi deportado para Honduras.

Aparentemente, o documento que assinou assegurava sua deportação. Instalado em uma cidadezinha rural do país, José diz que tem medo de estar de volta e que prefere que seu filho permaneça nos EUA. "Não quero que volte para cá porque aqui é perigoso para ele. É melhor ficar com a avó", diz.

Fonte: Redação - Brazilian Times

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