Publicado em 31/08/2018 as 5:00pm
Universitários sem documentos temem por seus estudos nos EUA
Pamela Ortiz Cerda se lembra muito bem da tarefa que recebeu, seis anos atrás, de seu instrutor...
Pamela Ortiz Cerda se lembra muito bem da tarefa que recebeu, seis anos atrás, de seu instrutor de história méxico-americana na Faculdade San Joaquin Delta, unidade educacional comunitária em Stockton, na Califórnia. "Ele exigiu que nós votássemos", afirmou Ortiz Cerda. Os alunos foram instruídos a trazer os comprovantes de votação como prova.
“Achei que era uma piada, mas em frente à classe toda, ele disse 'E para vocês que são ilegais, vou fazer com que a imigração esteja esperando por vocês do lado de fora da sala se não trouxerem os comprovantes'", conta ela. "Para uma adolescente recém-saída da escola, é assustador."
Foi assustador porque Ortiz Cerda era ilegal e havia sido trazida do México para os Estados Unidos quando tinha nove anos por seus pais, que buscavam uma vida melhor para a família.
Em um comunicado, a Faculdade San Joaquin Delta disse que seria "quase impossível" saber o que aconteceu nessa aula de Hhistória tantos anos atrás, mas afirmou que em anos recentes a escola tomou medidas para apoiar os alunos ilegais.
Ortiz Cerda, hoje com 24 anos, é coordenadora de serviços do programa do Dream Center da Faculdade Skyline, de San Bruno, na Califórnia.
Esse é um dos cerca de 40 centros na Califórnia que ajudam alunos sem status legal, conduzindo-os pelas complexidades das admissões e das aulas e conectando-os com a ajuda financeira. "É realmente um esforço focado em apoiar os alunos sem documentação, de maneira holística, por sua jornada na educação superior", conta ela.
Os centros são parte de um esforço do sistema de educação superior do país para ajudar alunos ilegais a assistir às aulas e conseguir diplomas. E, apesar de vários desses programas funcionarem há anos, existem preocupações hoje sobre pressões à medida que o governo Trump assume uma política de "tolerância zero" sobre a imigração ilegal.
Isso levou as faculdades a desenvolver políticas, com a Califórnia em primeiro plano, que impedem a possível interferência do governo federal.
As preocupações são especialmente fortes em faculdades comunitárias, que têm políticas de admissão mais abertas do que as instituições seletivas de quatro anos. Segundo um relatório do Sistema de Faculdades Comunitárias da Califórnia, até 70 mil alunos frequentam as 114 faculdades comunitárias do Estado, mais de 3% dos 2,1 milhões de estudantes matriculados.
"Temos, como nossa missão principal, a aceitação de todos os alunos, e é nosso desejo ajudar as populações mais vulneráveis e marginalizadas", diz Judy C. Miner, chanceler da Faculdade Comunitária do Distrito de Foothill-De Anza, que serve o Vale do Silício.
Fonte: Gazeta do Povo