Publicado em 19/09/2022 as 6:00pm
Grupo encontra ossos de imigrante que foi devorado por animais na fronteira
Depois de amarrar proteção contra cobras até os joelhos e inclinar a cabeça para invocar a...
Depois de amarrar proteção contra cobras até os joelhos e inclinar a cabeça para invocar a proteção de Deus, Oscar Andrade marchou para um deserto remoto em uma madrugada de domingo para procurar um imigrante que estava desaparecido desde o final de julho.
O pastor pentecostal de Tucson, no Arizona, passou três horas sob um calor escaldante que subiu acima de 38 graus Celsius, fugiu de um leão da montanha, duas cascavéis e pelo menos um escorpião, antes de fazer uma pausa para ligar para a tia de outro imigrante desaparecido. Ele acreditava ter encontrado o crânio do jovem.
"Muita força, minha querida irmã", disse-lhe Andrade. "Às vezes não entendemos, mas há uma razão pela qual Deus permitiu isso", acrescentou.
Na quarta busca por aquele homem de 25 anos do estado mexicano, o pastor e seu grupo de resgate e recuperação chamado Capellanes del Desierto (Capelães do Deserto) encontraram o documento de identificação em uma carteira a 12 metros de um crânio e outros ossos que foram limpos pelos animais e pelo sol implacável.
Desde março, Andrade recebeu mais de 400 ligações de famílias cujos os parentes – doentes, feridos ou exaustos – foram deixados para trás por contrabandistas nas fronteiras.
Especialistas forenses estimam que 80% dos corpos no deserto nunca são encontrados, identificados ou recuperados. Mas aqueles que são, apontam para uma das temporadas mais mortais já registradas no sempre perigoso sudoeste da fronteira.
O grupo não encontrou todos os imigrantes que procurou, principalmente porque a região é um dos corredores mais mortíferos, de acordo com as informações.
O local possui acampamentos guardados por batedores de cartéis de drogas em áreas onde a fronteira não tem cercas ou barreiras e os migrantes caminham para o norte por mais de uma semana para fugir da fiscalização. Eles têm que atravessar dezenas de quilômetros de montanhas desérticas e secas antes de chegar às principais rodovias, onde os veículos dos contrabandistas os levarão a destinos nos Estados Unidos.
A fé muitas vezes motiva organizações voluntárias que prestam ajuda ao longo da fronteira. Os capellanos, que procuram os desaparecidos pelo menos uma vez por semana, rezam com as famílias enlutadas e não cobram pelas buscas. Eles trabalham em estreita colaboração com a polícia, notificando a Patrulha da Fronteira dos Estados Unidos (CBP, sigla em inglês) de todas as buscas e, em seguida, as autoridades locais caso encontrem restos humanos, como aconteceu quase 50 vezes.
