Publicado em 28/09/2022 as 7:00pm
Homem que recrutou imigrantes para Martha's Vineyard diz que se sente traído
Na edição passada, o Brazilian Times revelou mais detalhes sobre o voo de indocumentados para...
Na edição passada, o Brazilian Times revelou mais detalhes sobre o voo de indocumentados para Martha´s Vineyard, Massachuetts. Uma mulher identificada por Perla teria feito uma oferta a um homem para ajudar no recrutamento.
De acordo com ele, a mulher lhe ofereceu roupas, comida e dinheiro e em troca, o homem sairia e encontraria outros migrantes para servir como passageiros em voos para Massachusetts. “Ela me deu gift cards do McDonald's de US$ 10 para serem dados aos migrantes que concordassem em embarcar nos voos e disse para dizer que eles e seus filhos seriam bem tratados na chegada”, contou. “Ela me disse que as pessoas que estavam indo para Massachusetts receberiam abrigo e toda assistência que precisassem. Ela garantiu que eles iam ajudá-los com o idioma e os filhos iam estudar”, disse.
O recrutador conversou com a CNN em sua primeira entrevista na televisão, mas em caráter de anonimato para proteger sua segurança. Ele mostrou o cartão de visita de Perla, mensagens de texto e mensagens de áudio para autenticar sua história e fornecer um relato interno de como os imigrantes foram reunidos para o voo de 14 de setembro.
Os voos foram organizados pelo governador da Flórida, Ron DeSantis, como parte de suas críticas às políticas de imigração e segurança de fronteira do governo federal. Ele disse que todos os imigrantes assinaram formulários de consentimento e receberam um pacote com informações sobre serviços oferecidos na ilha de Massachusetts.
Os advogados dos imigrantes entraram com uma ação coletiva, dizendo que eles foram enganados ao concordar com os voos e foram informados de que chegariam para encontrar moradia, emprego e ajuda no processo de imigração. Na verdade, ninguém em Martha's Vineyard sabia que eles estavam indo, de acordo com as autoridades locais.
O xerife do condado de Bexar, no Texas, que inclui San Antonio, disse que sua agência abrirá uma investigação sobre os voos para ver se alguma lei foi violada.
O recrutador disse, ainda, que também se sentiu traído por Perla e decidiu contar seu lado da história, dizendo que não sabia “da armação”.
“Eu nunca, nunca soube que havia um governador ou político envolvido no caso”, disse o recrutador. “Então, minha única vontade sempre foi ajudar as pessoas”, acrescentou.
O recrutador disse que concordou em trabalhar com Perla para recrutar os requerentes de asilo assim que percebeu que eles estavam recebendo comida e abrigo em um hotel em San Antonio, onde ficariam alguns dias antes de embarcar nos voos.
“Minha única intenção era ajudar as pessoas para que pudessem obter alguma estabilidade”, disse ele. “Ela os levou para um hotel, onde percebi que eles estavam sendo bem tratados, inclusive recebendo refeições, lavanderia e roupas”, continuou.
Ela lhe disse que seu trabalho era recrutar pessoas para ajudá-las e lhe entregou os gifts cards. “Eu distribuí esses cartões, com base na informação, de que os enviaríamos para um local santuário”, disse o recrutador. “Além disso, até o voo sair, nós os levaríamos para um hotel onde, como expliquei a você, eles foram bem atendidos”, afirmou.
“Tudo sempre foi voluntário. Ninguém nunca foi obrigado a fazer nada. Quando essas pessoas sempre diziam sim, eu me certificava de que eles me entregassem os papéis de migração”, acrescentou.
Os voos decolaram de San Antonio, pararam na Flórida, e finalmente seguiram para Martha's Vineyard. Assim que chegaram, ele disse que recebeu uma mensagem de telefone preocupada enviada por um dos imigrantes: “Estamos à deriva aqui. Essas pessoas nem sabiam que chegaríamos”.
O recrutador disse que enviou uma mensagem a Perla dizendo que os imigrantes estavam nervosos porque ninguém estava lá para encontrá-los e eles estavam dormindo na beira da estrada. “Ela respondeu para eu dizer a eles para ligarem para os números que demos a eles. A igreja e o Estado têm que cuidar deles”, afirmou.
Mais tarde naquela noite, ele disse que ela deixou uma mensagem de áudio: “Eu sei que eles estavam com medo no começo, mas agora eles estão em um lugar muito melhor e eles serão bem atendidos lá. Você não tem ideia. Eu sei que eles chegaram em outra cidade, mas é dentro de Massachusetts. Acredite, eles terão uma vida muito melhor do que aqui ou em qualquer outro lugar”.
Os imigrantes acabaram passando 44 horas em Martha's Vineyard e dormiram em uma igreja episcopal antes de serem levados para a Joint Base Cape Cod, em 16 de setembro. O recrutador disse no fim de semana que não está mais em contato com Perla e que na semana passada, ela o alertou para não falar com repórteres: “Se um repórter ligar para você, não diga nada”.