Ativistas revelam que mais um brasileiro tentou suicídio em centro de detenção para imigrantes no Novo México

Uma série de tentativas de suicídio relatadas por detentos e funcionários em um único centro de detenção de imigrantes no Novo México está ressaltando as preocupações sobre os resultados do tratamento de saúde mental oferecido nas instalações.

Um dos casos citados foi o do brasileiro Kelsey Vial que suicidou-se no Centro de Detenção do Condado de Torrance, em Estancia (NM), em 24 de agosto de 2022, de acordo com o relatório oficial da morte do detento que estava sob custódia do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês).

A morte de Vial ocorreu um mês antes de um relatório do Escritório de Investigações Internas (OIG), do Departamento de Segurança Interna (DHS), recomendar o fechamento da instalação devido às más condições.

Em uma denúncia às agências federais de supervisão, defensores do Innovation Law Lab detalharam outra tentativa de suicídio na instalação, desta vez no dia 30 de novembro de 2022, com base no relato pessoal do ex-detento Rafael Oliveira do Nascimento.
Rafael, também cidadão brasileiro, já foi libertado da detenção de imigração.

“F.”, outro detento em Torrance, disse ao The Hill que tentou o suicídio no mês passado, mas foi impedido por seus companheiros. Ele tentou escalar uma grade para pular. O imigrante, cujo nome não foi revelado a pedido dele para evitar afetar seu processo de imigração, disse que a resposta da instalação à sua tentativa de suicídio foi colocá-lo em isolamento.

“Quando eu estava na cela, eu disse a eles: 'Por que vocês não apagam as luzes?' Eles estavam me tratando pior do que El Chapo. 'Por que você não apaga as luzes?' e eles as deixavam acesas. 'Por que você não apaga as luzes?'”

Craig Haney, psicólogo social e especialista nos impactos do isolamento na detenção, disse que as prisões e centros de detenção dos Estados Unidos costumam usar o isolamento como uma resposta à depressão, automutilação e tentativas de suicídio dos internos. “Esta é uma maneira de resolver um problema de curto prazo: 'O que fazemos com este detento doente mental?' Mas de uma forma que provavelmente será prejudicial para os detentos a longo prazo. E essa não é uma questão à qual os centros de detenção prestem muita atenção”, afirmou Haney.

Ryan Gustin, porta-voz da CoreCivic, a empresa privada que opera as instalações de Torrance para o ICE, rebateu a afirmação de F. “A segurança das pessoas confiadas aos nossos cuidados em Torrance é a nossa prioridade número um. Se um detido exibe ou expressa automutilação ou intenções suicidas, ele não recebe medidas punitivas, mas recebe um alto nível de cuidados médicos e de saúde mental apropriados”, disse. “Isso inclui a transição do detido para uma cela projetada com a segurança. Uma avaliação completa da saúde mental e física é realizada por nossa equipe médica e a equipe pode monitorar intensivamente o indivíduo para garantir sua segurança. O indivíduo continua a receber monitoramento e avaliação não mais do que o necessário para mitigar o risco de automutilação iminente”, acrescentou, observando que o CoreCivic não usa nem o termo nem a prática de “confinamento solitário”.

Ainda assim, a morte de Vial e as outras duas tentativas de suicídio marcaram uma virada para o centro de detenção do ICE em geral, depois que a agência não relatou nenhuma morte por suicídio de detentos no ano fiscal de 2021.

De acordo com um estudo divulgados em 2021, publicado no AIMS Public Health, a taxa geral de suicídio por cada 100.000 pessoas admitidas na detenção do ICE foi de 0,3 de 2010 a 2019.

Em 2020, essa taxa disparou para 3,4 suicídios por 100.000 detenções.

Esse estudo, de autoria de acadêmicos das universidades de Harvard e Stanford, teorizou que uma possível causa para o aumento foi “crescimento de lapsos nos cuidados de saúde mental nos centros de detenção do ICE”, com base em um relatório do Congresso de 2020 que encontrou “problemas importantes nos cuidados de saúde mental dentro destas instalações”.

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