Ativistas do Arizona pedem boicote econômico à Flórida por repressão a imigrantes

Da redação

A expressão “Todos somos Flórida!” ecoou do lado de fora do prédio do Capitólio do Arizona na segunda-feira, dia 26, com uma caravana de 10 imigrantes latinos, acompanhados por alguns legisladores e cerca de uma dúzia de ativistas locais. Eles diziam que não vão parar até que a Flórida anule a nova lei de imigração que imporá duras penalidades contra empresas que empregam indocumentados entre outros atos considerados perseguição.

O projeto de lei contém uma série de disposições que, segundo os ativistas, violarão os direitos humanos de quase um milhão de indocumentados que vivem na Flórida.

A caravana, que iniciou sua jornada para o Sunshine State, em San Diego, na sexta-feira, dia 19, parou em Los Angeles por três dias antes de chegar a Phoenix. Depois seguiu para Tucson, passou pelo Novo México, Texas e Louisiana, na esperança de obter mais apoio para exigir a revogação do SB1718.

A caranava também fará paradas nas cidades de Las Cruces, Novo México, El Paso, San Antonio, Houston e Nova Orleans antes de chegar a Tallahassee, Flórida.

“Estamos convocando os floridianos a se juntarem a nós no boicote econômico ao estado”, disse Juan Jose Guttierrez, um dos 10 membros da caravana.

O boicote de quatro dias durará de 1º a 4 de julho.

“A razão pela qual escolhemos esta data é que queremos lembrar ao povo americano o que levou à Revolução Americana”, disse Guttierrez. “Parece que o povo esqueceu que a Revolução Americana foi realizada por muitos imigrantes”, afirmou. “Os Estados Unidos são um país de imigrantes. Portanto, não entendemos por que essa última onda de imigrantes está sendo rejeitada e usada como peão para fazer campanhas políticas e ganhar votos”, acrescentou.

A rígida legislação da Flórida, que entra em vigor em 1º de julho, limitará os serviços sociais para pessoas indocumentadas, invalidará as carteiras de motorista emitidas para pessoas indocumentadas por outros estados e exigirá que os hospitais que recebem financiamento do Medicaid solicitem o status de imigração dos pacientes.

O mais preocupante para os ativistas, porém, é a disposição que exige que as empresas com mais de 25 funcionários verifiquem o status de imigração de cada um e será imposto penalidades pesadas às empresas que contratam trabalhadores indocumentados.

“Isso nada mais é do que outra solução fracassada para a crise da fronteira”, disse a senadora estadual Catherine Miranda, democrata por Phoenix, na coletiva de imprensa. “O governador da Flórida, Ron DeSantis e os republicanos de seu estado precisam encontrar soluções verdadeiras, não leis imitadoras como o infame projeto SB1070 do Arizona”, acrescentou.

Esse projeto de lei, sancionado em 2010 pelo então governador Jan Brewer, permitiu que a polícia do Arizona exigisse documentos e até mesmo prendesse alguém sem mandado se acreditasse que essa pessoa fosse indocumentada. Também criminalizou imigrantes sem documentos que procuram ou aceitam trabalho. Após protestos em todo o país, a Suprema Corte dos EUA derrubou três das quatro disposições, mantendo apenas a disposição que permite à polícia exigir documentos de pessoas.

Miranda usou o SB1070 como um conto preventivo, instando a Flórida a abandonar as medidas extremas da lei. “É preciso haver uma abordagem humana com um processo eficaz para as famílias”, disse ela. “Enquanto isso, as pessoas vão sofrer na Flórida. Eles viverão com medo e serão injustamente perfilados”, afirmou. “Nós, do Arizona, nos juntamos à Flórida”, disse ela sob aplausos. “Hoje, e até que essa legislação odiosa seja derrubada, somos todos a Flórida”, destacou.

A multidão gritou “todos somos Florida” em resposta ao discurso de Miranda.

O canto aumentou e diminuiu mais algumas vezes e mais oradores subiram ao palanque.

Lydia Guzman, diretora de defesa e engajamento cívico da League of United Latin American Citizens, a maior e mais antiga organização de membros hispânicos do país, pediu aos legisladores do Arizona que emitam uma proibição de viagem para a Flórida até que a legislação seja revogada.

“Os latino-americanos não estão seguros na Flórida por causa da nova lei”, disse ela ao grupo em espanhol. “Eles devem evitar ir a este estado por enquanto”, acrescentou.

Ela disse que a liga está considerando processar a Flórida assim como processou o Arizona por causa do SB1070. “Nenhuma proposta terrível chegou depois de nosso processo”, disse ela, esperando que um processo contra a Flórida produza o mesmo efeito.

Até que uma ação contra o SB1718 seja tomada, os membros da caravana dizem que continuarão lutando pelo que dizem ser direitos humanos básicos. “Como podemos ir na frente do mundo inteiro e dizer que estamos lutando pela liberdade, democracia e direitos humanos na Ucrânia, e nos esquecemos das pessoas que estão aqui esperando pela reforma da imigração há quase 40 anos?”, indagou Guttierrez após a coletiva de imprensa. “Queremos deixar claro que não vamos tolerar esse tipo de coisa. Os membros da caravana pretendem chegar à Flórida em 1º de julho, esperando que o maior número possível de pessoas se junte a ela no boicote econômico”, finalizou.