Acampamento em deserto na fronteira dos EUA é a "nova realidade"

Centenas de migrantes que diariamente chegam à fronteira sul dos Estados Unidos enfrentam condições desumanas em acampamentos improvisados no deserto da Califórnia. Sem água, abrigo e sob o risco de serem expostos a cobras e escorpiões, esses migrantes aguardam, muitas vezes por dias, a processamento pelas autoridades de imigração em uma situação que ativistas descrevem como "centros de detenção a céu aberto".

Os acampamentos, localizados aos pés do muro entre Estados Unidos e México, estão inchando, com aproximadamente 800 migrantes aguardando diariamente apenas em três desses assentamentos em Jacumba, sudoeste da Califórnia. As autoridades justificam as demoras alegando sobrecarga e falta de capacidade institucional para lidar com a crescente demanda.

A diretora-executiva da ONG Al Otro Lado, Erika Pinheiro, relata que as autoridades mantêm os migrantes confinados nesses acampamentos enquanto tentam criar espaço nos centros de processamento. No entanto, falta fornecimento básico de alimentos, água, abrigo e assistência médica. Aqueles que se aventuram fora dos acampamentos enfrentam a ameaça de deportação.

Organizações, como a Al Otro Lado, fornecem ajuda humanitária, incluindo comida, água, cobertores e cuidados médicos. No entanto, temem esgotar seus recursos diante da crescente demanda.

Em meio a um clima extremo, com altas temperaturas durante o dia e frio intenso à noite, adultos e crianças buscam refúgio em barracas precárias, fazendo fogueiras para se aquecerem. A situação é agravada pela falta de instalações sanitárias adequadas, com apenas dois banheiros químicos sujos disponíveis.

Os migrantes enfrentam obstáculos adicionais no processo de pedido de asilo nos Estados Unidos, dependendo de um aplicativo chamado CBP One, que pode levar meses para marcar uma consulta. Com o aplicativo disponível apenas em inglês, espanhol e crioulo, muitos migrantes de diferentes origens linguísticas se veem em situações perigosas enquanto esperam no México.

A questão migratória promete ser central na campanha eleitoral de 2024, onde o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump provavelmente disputarão a reeleição. A situação destaca as complexidades enfrentadas pelo governo Biden ao equilibrar promessas de humanização do sistema de imigração com a necessidade de fortalecer o controle fronteiriço.

Erika Pinheiro, da Al Otro Lado, acusa a Agência de Aduanas e Proteção de Fronteiras de ter uma agenda partidária, enquanto os agentes no terreno expressam estar sobrecarregados e incapazes de lidar com a situação.

Enquanto o debate político se intensifica, a realidade nos acampamentos é de incerteza e adversidades. Migrantes, como Carla Morocho, grávida de oito meses, enfrentam desafios enormes em busca de um futuro melhor nos Estados Unidos, apesar das condições adversas e da espera angustiante. A crise humanitária na fronteira sul dos EUA destaca a necessidade urgente de uma abordagem mais eficaz e compassiva para lidar com o fluxo migratório.

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