Publicado em 26/11/2024 as 4:00pm
Setor agrícola dos EUA pede que Trump proteja trabalhadores imigrantes da deportação
Fonte: Da redação
Grupos do setor agrícola dos Estados Unidos pedem que o presidente eleito Donald Trump exclua seu setor da promessa de deportações em massa, argumentando que isso poderia prejudicar uma cadeia de suprimentos de alimentos amplamente dependente de imigrantes em situação irregular no país.
Até agora, a equipe de Trump não se comprometeu com nenhuma exceção, segundo entrevistas com grupos de agricultores e trabalhadores, além de declarações do novo “czar da fronteira” de Trump, Tom Homan. Dados dos Departamentos de Trabalho e Agricultura indicam que quase metade dos cerca de 2 milhões de trabalhadores rurais não tem status legal, assim como muitos empregados em laticínios e frigoríficos.
Trump, republicano, prometeu deportar milhões de imigrantes irregulares como parte de sua campanha para reconquistar a Casa Branca. Críticos afirmam que essa medida, além de logisticamente desafiadora, pode separar famílias e impactar negativamente os negócios nos EUA. Homan declarou que a fiscalização focará em criminosos e indivíduos com ordens definitivas de deportação, mas destacou que nenhum imigrante irregular estará isento. Em entrevista à Fox News em 11 de novembro, afirmou que ações contra empresas “precisam acontecer”, sem especificar se o setor agrícola será alvo.
“Há muito a ser feito”, disse Homan em entrevista telefônica este mês. Segundo David Ortega, professor de economia e políticas alimentares da Michigan State University, a remoção em massa de trabalhadores agrícolas geraria um choque na cadeia de suprimentos e elevaria os preços ao consumidor. “Eles desempenham funções essenciais que muitos americanos não podem ou não querem realizar”, afirmou Ortega. Grupos agrícolas e aliados republicanos mostraram certo alívio com o foco em criminosos. Dave Puglia, presidente e CEO da Western Growers, disse apoiar essa abordagem, mas ressaltou preocupação com possíveis impactos no setor agrícola caso trabalhadores agrícolas sejam deportados.
A porta-voz da transição de Trump, Karoline Leavitt, não respondeu diretamente às preocupações dos agricultores em nota à Reuters. “O povo americano reelegeu o presidente Trump de forma contundente, dando-lhe um mandato para cumprir as promessas de campanha, como deportar criminosos e restaurar nossa grandeza econômica”, afirmou Leavitt. Trump anunciou no sábado (23) a indicação de Brooke Rollins, ex-presidente do Conselho de Política Doméstica da Casa Branca, para assumir a Secretaria de Agricultura.
“Precisamos de segurança jurídica”
Os agricultores têm à disposição o programa de vistos H-2A, que permite a contratação de trabalhadores sazonais estrangeiros desde que demonstrem não haver mão de obra americana suficiente, qualificada e disponível. O programa cresceu nos últimos anos, com 378 mil postos certificados em 2023, três vezes mais que em 2014, segundo o Departamento do Trabalho. No entanto, esse número cobre apenas cerca de 20% dos trabalhadores agrícolas do país, conforme o USDA. Muitos agricultores afirmam que os custos com salários e moradia do programa são proibitivos, enquanto outros têm demandas de mão de obra durante o ano inteiro, o que inviabiliza o uso de vistos sazonais.
“Caminhos legais expandidos para trabalhadores agrícolas seriam benéficos tanto para agricultores quanto para trabalhadores”, disse John Walt Boatright, diretor de assuntos governamentais da American Farm Bureau Federation. John Hollay, da International Fresh Produce Association, destacou a necessidade de “certeza, confiabilidade e acessibilidade” em programas de mão de obra para garantir o funcionamento da cadeia alimentar. Por décadas, tentativas de reforma imigratória para permitir que mais trabalhadores agrícolas permaneçam legalmente no país fracassaram.
Apesar do risco de fiscalização em fazendas ser baixo devido à necessidade de mão de obra, segundo Leon Fresco, advogado de imigração, trabalhadores rurais enfrentam estresse crônico diante do medo de deportação. Mary Jo Dudley, diretora do Cornell Farmworker Program, mencionou que estão sendo treinados para conhecer seus direitos caso confrontados por autoridades. Enquanto isso, sindicatos como o Familias Unidas por la Justicia veem maior engajamento dos trabalhadores. “A ansiedade é real, mas juntos temos uma chance melhor de lutar”, afirmou Edgar Franks, diretor político da organização.