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Publicado em 15/12/2024 as 5:00pm

É possível implementar o plano de deportação em massa de Trump?

Fonte: Da redação


A mensagem rígida contra a imigração defendida por Trump durante sua campanha eleitoral começa a se concretizar antes mesmo de sua posse. O presidente eleito, republicano, está cercando-se de uma equipe linha-dura de "falcões" para lidar tanto com aqueles que buscam entrar nos EUA quanto com os milhões de imigrantes sem documentos que já residem no país, sob a ameaça de deportações em massa.

Uma das primeiras nomeações foi a de Tom Homan, o “czar da fronteira”, conhecido e criticado pela política que, em seu primeiro mandato, separou famílias buscando asilo na fronteira, gerando imagens de crianças em gaiolas que chocaram o mundo.

A preocupação se alastra entre os 11 milhões de imigrantes sem documentos que vivem nos Estados Unidos. “A abordagem busca criar medo nas comunidades para que, de forma direta ou indireta, comecem a duvidar de sua permanência no país”, explica Ariel Ruiz Soto, analista sênior do Instituto de Política Migratória, em Washington.

Muitos desses imigrantes já estão se organizando para enfrentar possíveis ações de deportação em massa. “Há uma preparação significativa para lidar com essas políticas. Grupos de advogados planejam intervir para impedi-las, e até organizações cívicas em bairros como Chicago estão se mobilizando, prontos para alertar vizinhos e advogados no caso de batidas”, relata René D. Flores, professor de sociologia na Universidade de Chicago e especialista em migração.

Tarefa complexa e cara

Os 11 milhões de imigrantes sem documentos formam um grupo diverso: enquanto alguns vivem ilegalmente há anos, outros chegaram recentemente. Muitas famílias têm status migratório misto, com um dos pais sem documentos, outro com residência permanente e filhos nascidos nos EUA, já cidadãos.

Um estudo recente do Conselho Americano de Imigração estimou que deportar todos os indocumentados custaria 88 bilhões de dólares por ano. Além disso, a história recente mostra que nunca mais de meio milhão de imigrantes foram deportados em um único ano. Seria viável deportar milhões no próximo mandato?

A infraestrutura atual não comporta essa escala. “Nem no governo Obama, nem no primeiro mandato de Trump houve aumento significativo no número de centros de detenção, que possuem menos de 50 mil leitos em todo o país. A logística necessária para processar e deportar milhões de pessoas simplesmente não existe”, aponta Ruiz Soto.

Além disso, países como Cuba, Venezuela e Nicarágua, sem acordos de deportação com os EUA, complicam ainda mais a situação.

Embora os republicanos controlem o Senado e a Câmara, facilitando o aumento de recursos para deportações, o processo será demorado. “Não há um botão mágico que Trump possa apertar ao assumir a Casa Branca. É provável que o número de deportações aumente neste segundo mandato, mas atingir milhões levará tempo”, avalia Ruiz Soto.

Até mesmo Homan, responsável pelas operações, reconheceu que o foco inicial será em imigrantes com antecedentes criminais, casos de asilo negados ou ordens de deportação já emitidas. “Mesmo assim, será difícil escalar essas ações”, enfatiza o analista.

Colaboração com as autoridades federais de imigração

René D. Flores destaca que localizar e deter imigrantes sem documentos é um desafio logístico, pois eles estão espalhados por todo o país. Além disso, cidades-santuário como Nova York e Los Angeles dificultam o trabalho das autoridades federais, negando acesso a informações sobre imigrantes.

A equipe de Trump, no entanto, declarou guerra a essas cidades, com Homan ameaçando cortar fundos federais como forma de pressão. Por outro lado, estados como Texas, Oklahoma e Utah prometeram colaborar com as agências de imigração, enquanto Nova York, Califórnia e Washington adotaram posições de resistência.

Apesar disso, a autoridade de deportação é federal. “Mesmo que as cidades coloquem obstáculos, nada impede que agentes atuem diretamente nessas localidades para realizar deportações”, reforça Ruiz Soto.

Consequências de uma deportação em massa

A economia americana sofreria com a expulsão de milhões de imigrantes sem documentos, muitos dos quais trabalham em setores como construção, agricultura, manufatura e assistência médica. “Eles estão há anos, às vezes décadas, em seus empregos, contribuindo para o sistema público sem receber benefícios”, observa Flores.

A ausência desses trabalhadores impactaria os custos de produtos e serviços, encarecendo-os. “Isso pode desencadear uma reação em cadeia, desacelerando setores inteiros da economia. Quando o impacto for sentido, essas políticas serão questionadas”, diz Flores.

Setores industriais, dependentes dessa mão de obra, também sofreriam. “Deportações em larga escala já levaram empregadores a interromper operações. Eleitores republicanos não consideram esse impacto, pois ele ocorre nos bastidores, embora consumam os produtos desses setores”, conclui Ruiz Soto.

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