Deportações em massa não resolverão crise habitacional nos EUA, afirmam Especialistas

A proposta de deportações em massa de imigrantes indocumentados, defendida pelo presidente eleito Donald Trump, não solucionará a crise habitacional dos Estados Unidos, dizem especialistas. Apesar das alegações de Trump e de seu vice-presidente eleito, J.D. Vance, a relação entre imigração e acessibilidade habitacional é mais complexa.

Durante a campanha, Trump atribuiu à imigração o aumento dos custos habitacionais. “A imigração está elevando os custos de moradia,” afirmou em um comício em setembro. Vance foi além, dizendo que "imigrantes ilegais competindo com americanos por moradias escassas" impulsionam os preços. No entanto, especialistas em habitação e imigração contestam essas afirmações.

Imigrantes indocumentados, geralmente concentrados em áreas de baixa renda, vivem em locações acessíveis e frequentemente em lares multigeracionais, movidos pela necessidade econômica. Segundo o Harvard Joint Center for Housing Studies, o crescimento de novos lares nos últimos anos foi impulsionado por millennials, e não por imigrantes.

De acordo com o Pew Research Center, apenas 4,8% dos 130 milhões de lares nos EUA incluem imigrantes sem documentação. “É importante combater a ideia de que moradia para um grupo ocorre às custas de outro,” disse Riordan Frost, analista do Harvard Joint Center.

Além disso, uma projeção do Escritório de Orçamento do Congresso indica que, a partir de 2040, o crescimento populacional dependerá exclusivamente da imigração, dada a combinação de envelhecimento da geração baby boomer e taxas de natalidade em declínio.

Efeitos Econômicos Prejudiciais

Embora a deportação de imigrantes possa, em teoria, liberar espaço habitacional, ela pode trazer efeitos colaterais prejudiciais. No setor de construção, altamente dependente de imigrantes, a falta de mão de obra pode agravar a escassez de moradias. Dados de 2022 da Associação Nacional de Construtores de Casas mostram que, em estados como Califórnia e Texas, imigrantes representam 40% da força de trabalho na construção.

A advogada de imigração Renata Castro alertou que deportações poderiam atrasar reparos essenciais em áreas propensas a desastres, como a Flórida, e aumentar custos de seguro, enquanto proprietários repassam despesas aos compradores.

“O mercado de trabalho em construção não é preenchido por americanos,” destacou Castro. "Esses são empregos que os americanos simplesmente não querem."

A Versão de Trump e o Clamor dos Eleitores

Edward Pinto, do American Enterprise Institute, reconhece que deportações poderiam reduzir a demanda habitacional, mas afirma que o impacto na crise habitacional seria marginal. Para ele, a proposta reflete o desejo dos eleitores de ações rigorosas contra a imigração ilegal.

Especialistas alertam que abordar a crise habitacional requer soluções abrangentes, como programas habitacionais acessíveis e estratégias para combater o alto custo de terrenos e regulamentações ineficazes. Deportações em massa, dizem, não apenas não resolveriam a crise, mas poderiam intensificá-la ao desestabilizar setores econômicos cruciais.