Imigrantes temem a separação de seus filhos e pedem a ativista da Flórida para assinar documentos de tutela

Com o aumento das detenções e deportações desde a posse de Donald Trump, imigrantes indocumentados nos Estados Unidos estão alterando seus padrões de deslocamento e tomando precauções drásticas para garantir que seus filhos sejam cuidados caso sejam separados deles. Uma dessas pessoas é Nora Sandigo, ativista da Flórida, que tem sido procurada por famílias imigrantes que temem a deportação para assinar documentos de tutela legal.

Na véspera da posse de Trump, uma dúzia de famílias de imigrantes procuraram Sandigo em seu rancho, pedindo-lhe para ser a tutora legal de seus filhos. Agora, com o agravamento da situação, essas famílias estão pedindo para que Sandigo vá até suas casas para assinar os papéis necessários. Muitas pessoas temem que ao se deslocarem para encontrar a ativista, possam ser capturadas por operações de fiscalização de imigração (ICE), intensificadas desde que Trump assumiu a presidência e se comprometeu com a execução em massa de deportações, além de ter acabado com programas que ofereciam aos imigrantes uma forma legal de estar nos Estados Unidos.

Sandigo, que vive em Homestead, no sul da Flórida, tem atendido a centenas de chamadas de pais imigrantes de todo o país. Ela relatou que já esteve em pelo menos 15 casas, onde pais preencheram os papéis para garantir que ela pudesse assinar documentos em nome de seus filhos em escolas, hospitais e tribunais, caso fossem deportados. A procuração também permite que ela ajude os filhos a viajar e se reunir com suas famílias.

“Agora as pessoas me dizem que têm medo de sair para a rua, que têm medo de dirigir, que temem que alguém os pare na rua”, disse Sandigo, uma mãe de duas filhas. “Eles me pediram para ir até suas casas em vez de virem até mim.”

Aumento das Prisões de Imigrantes sob o Governo Trump

O governo Trump já registrou a prisão de mais de 8.000 imigrantes desde a posse, em 20 de janeiro. O ICE tem realizado uma média de 787 prisões diárias, um aumento significativo em comparação à média de 311 prisões diárias durante o governo de Joe Biden. Em cidades como Homestead, onde muitos imigrantes de origem mexicana e da América Central trabalham em viveiros e plantações, a presença de imigrantes tem diminuído nas ruas. Supermercados e lojas estão mais vazios, com algumas pessoas preferindo pedir a vizinhos que façam compras por elas. Muitos até deixaram de frequentar a Igreja do Sagrado Coração aos domingos, com receio de represálias.

Medo da Perda de Filhos e da Entrada no Sistema de Adoção

Há anos, Sandigo tem alertado os pais imigrantes sobre o pior cenário: a possibilidade de serem separados de seus filhos. Agora, ela vai até as casas dessas famílias para assinar os documentos necessários. Um dos casos mais comoventes envolve Julia, uma mulher guatemalteca, que recentemente teve seu marido detido enquanto estava em uma van a caminho de um trabalho na construção civil. Ela tem dois filhos americanos e teme que, se for deportada, seus filhos sejam retirados dela e enviados para o sistema de adoção. Por isso, assinou os documentos de tutela legal, nomeando Sandigo como guardiã de seu filho mais novo.

O Papel de Nora Sandigo

Nora Sandigo tem uma longa trajetória de apoio a imigrantes. Ela mesma foi uma refugiada nicaraguense, forçada a deixar seus pais quando tinha 16 anos, após o governo sandinista confiscar a fazenda de sua família. Hoje cidadã dos Estados Unidos, Sandigo tem dedicado sua vida a ajudar crianças imigrantes. Nos últimos 15 anos, ela tem assumido a tutela de mais de 2.000 crianças, sendo que algumas delas já são adultas. Ela se tornou uma figura de apoio fundamental para muitas famílias imigrantes, oferecendo-lhes uma esperança de que seus filhos não serão separados e enviados ao sistema de adoção.

"Eu sinto empatia por eles, solidariedade, amor a Deus. Quero fazer algo", afirmou Sandigo. Seu trabalho continua sendo crucial em um momento de intensificação das políticas de imigração, trazendo alívio a tantas famílias que, como Julia e Albertina, temem pela segurança de seus filhos.