Publicado em 27/10/2020 as 3:00pm
Em noite de premiação LABRFF anuncia fim do festival
Após 13 edições, a falta de apoio público e privado impede a continuidade do evento que conectou os mercados audiovisuais dos EUA e do Brasil
A 13ª edição do Los Angeles Brazilian Film Festival terminou neste domingo (25) com a difícil missão de anunciar ao público o fim do festival que desde 2008 foi responsável por conectar os mercados americano e brasileiro, e por gerar negócios entre os dois países. O anúncio foi feito durante a cerimônia de premiação realizada na plataforma Filmocracy, que abrigou a versão 2020 do evento, 100% online. “Foi a decisão mais difícil da minha vida. O LABRFF é um filho pra mim, e eu dediquei os últimos treze anos a ele. Mas só quem realiza um evento do porte do LABRFF sabe da luta que é, e nunca vivemos de maneira tão intensa a falta de valorização, de incentivo, e de prestígio à cultura. É uma discussão ampla, mas o resumo é que não dá para seguir assim”, lamentou Meire Fernandes, fundadora do Los Angeles Brazilian Film Festival.
Em 13 edições já realizadas, o LABRFF teve apoio de um edital público em apenas uma delas. Na edição deste ano uma campanha de financiamento coletivo foi realizada, mas apenas 1% da meta foi arrecadado. O festival que já exibiu mais de 800 títulos e premiou mais de 300 profissionais do cinema não tem recursos para seguir com o trabalho que vem sendo realizado. “O custo médio para a realização de uma edição do LABRFF é de um milhão e duzentos mil reais. E se pensarmos na estrutura que o festival merece, e nos custos dos 25 profissionais envolvidos, teríamos que ter pelo menos 400 mil dólares, o que corresponderia a cerca de dois milhões de reais atualmente. Os aluguéis de teatro e cinema são caros, e em dólar. Temos uma equipe com profissionais de designer, Comunicação, Marketing, e também os nossos produtores. São profissionais que precisam receber pelo trabalho prestado. Nós não conseguimos recursos para isso. Mesmo na versão online, a realização do festival custou muito, e outras despesas surgiram, como a plataforma que abrigou o catálogo de filmes e toda estrutura para realização das palestras, workshops e shows musicais que transmitimos online. Arrecadar pouco mais de 2 mil reais na nossa campanha de financiamento coletivo também foi uma frustração imensa, e eu não posso esconder isso”, afirma Manoel Neto, diretor do LABRFF.
Em seu discurso na cerimônia de encerramento, a fundadora do LABRFF afirmou que a decisão vinha sendo pensada há anos. “Para chegarmos neste momento, a diretoria do festival vem discutindo muito o assunto nos últimos anos. Nós contamos nos dedos os apoiadores do festival, e quero registrar a nossa gratidão a cada um deles, mas o suporte recebido não é suficiente. Ano após ano, temos colocado dinheiro dos nossos bolsos por acreditar nos resultados positivos do LABRFF. Mas qual o sentido de continuarmos dessa forma? Eu faço essa indagação a mim mesma todos os dias”, conta Meire Fernandes.
O discurso gerou comoção durante a cerimônia e recebeu apoio de diretores, produtores, atores e atrizes que participaram do evento. “Em 2015, ganhei o prêmio de Melhor Curta, e esse prêmio alavancou minha carreira. Estou muito triste com isso”, lamentou o diretor Hsu Chien. O ator Bruno Gagliasso fez uma análise sobre o cenário enfrentado pela área cultural. “Estamos passando por um momento muito difícil. Eu torço para que o LABRFF possa recomeçar. Queria poder ir presencialmente ao festival”, afirmou. O ator Matheus Nachtergaele, que dividiu com Gagliasso o prêmio de Melhor Ator, também lamentou o fim do LABRFF. “O festival estar acontecendo este ano é um pequeno milagre. Eu vou guardar esse prêmio para o resto da minha vida, e queria muito ter participado presencialmente de alguma edição do festival. Quero acreditar que as decisões que estão acontecendo sejam acertadas apenas por hora, mas que depois possam ser revistas”, concluiu.
História do LABRFF
Festival de Cinema conecta Brasil e EUA e movimenta indústria cinematográfica nos dois países
Por mais de uma década a capital mundial do cinema abriu as portas para os talentos brasileiros mostrarem o que vinha sendo feito de melhor na sétima arte no nosso país. Essa vitrine de oportunidades para os profissionais do Brasil se repetiu desde 2008, quando foi fundado o Los Angeles Brazilian Film Festival. Idealizado pela produtora de cinema Meire Fernandes, e pelo jornalista Nazareno Paulo, o evento já nasceu forte, com apoio de astros brasileiros e americanos que compreenderam as portas que estavam sendo abertas a partir das conexões que um festival de cinema poderia gerar. “Nós percebemos que faltava algum mecanismo que conectasse as indústrias brasileira e americana de maneira direta, aqui em Los Angeles. O mercado já sentia essa necessidade com o cinema brasileiro chamando cada vez mais atenção. O LABRFF nasceu para preencher essa lacuna”, explica a fundadora, Meire Fernandes.
Logo nas primeiras edições do LABRFF, as presenças de nomes brasileiros em ascensão nos EUA, como do ator Rodrigo Santoro e do diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus), além de astros consagrados em Hollywood, como o ator Dustin Hoffman, já demonstravam que a troca de experiências entre os profissionais dos dois países seria promissora. Mas os resultados gerados ao longo de 12 anos desde a fundação surpreenderam. Mais de 800 títulos foram exibidos, e mais de 300 profissionais do cinema brasileiro foram premiados. As conexões feitas entre os intervalos das sessões renderam muitas histórias ao longo de mais de uma década. Talentos que se conheceram no LABRFF, acabaram trabalhando juntos em novos projetos que surgiram de ideias durante o festival. Estudantes de cinema, voluntários da produção do evento, acabaram retornando em edições seguintes com seus próprios filmes na Seleção Oficial. É o papel de incentivo aos novos talentos, que também foi marca do LABRFF.
Mas além do festival ser uma grande comemoração do cinema brasileiro e gerar conexões espontâneas, o evento manteve um papel fundamental para a geração de negócios entre Brasil e Estados Unidos. O Brazilian Film Market (BFM), feira de mercado mantida dentro do LABRFF, foi responsável pela conexão dos talentos brasileiros com a indústria americana. Foi no BFM que foi firmado o contrato para o primeiro filme original NETFLIX do Brasil (“O Matador”, de Marcelo Galvão), além de outros projetos com grandes estúdios, como a comédia “Solteira Quase Surtando”, lançada este ano nos cinemas brasileiros. O longa é uma parceria com MGM Studios graças ao intermédio do BFM.
Observando a força do mercado musical, o LABRFF também acompanhou a demanda crescente por conexões nessa área, e em 2019 fundou o Los Angeles International Music Video Festival (LAMV), que contou com grandes nomes da música brasileira já em sua primeira edição.
Em 2020, o Los Angeles Brazilian Film Festival inovou mais uma vez e se adaptou às necessidades diante da pandemia do novo coronavírus. A 13ª edição do evento foi realizada entre os dias 21 e 25 de outubro na plataforma Filmocracy, que apresentou uma vivência do festival quase que presencial. A Filmocracy funciona como um serviço de streaming avançado, com catálogo de filmes, teatros virtuais com as salas de cinema, além das salas de reuniões e palestras, onde os participantes puderam acompanhar discussões e debates por meio de videoconferências.
O LABRFF anunciou o fim do festival durante a cerimônia de premiação da 13ª edição do evento, no dia 25 de outubro de 2020.
Confira a lista de vencedores do LABRFF 2020:
Melhor Filme: King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante
Melhor Direção: Camilo Cavalcante, por King Kong en Asunción
Melhor Ator (empate): Matheus Nachtergaele, por Piedade e Bruno Gagliasso, por Loop
Melhor Atriz (empate): Fernanda Montenegro, por Piedade e Alessandra Negrini, por Acqua Movie
Melhor Ator Coadjuvante (empate): Cauã Reymond, por Piedade e Augusto Madeira, por Acqua Movie
Melhor Atriz Coadjuvante: Mariana Ruggiero, por Piedade
Melhor Roteiro: Acqua Movie, escrito por Lírio Ferreira, Marcelo Gomes e Paulo Caldas
Melhor Fotografia: Acqua Movie, por Gustavo Hadba
Melhor Edição: Acqua Movie, por Vania Debs
Melhor Trilha Sonora: Piedade, por Jorge dü Peixe
Melhor Documentário | Brasileiro: O Caso do Homem Errado, de Camila de Moraes
Melhor Documentário | Internacional: Passages, de Lúcia Nagib e Samuel Paiva
Melhor Animação: Napo, de Gustavo Ribeiro
Melhor curta-metragem | Brasileiro: Esmalte Vermelho Sangue, de Gabriela Altaf
Melhor Ator in memorian: Andrade Júnior, por King Kong en Asunción
Life Achievement: Ivan Cardoso, por Ivan, O Terrível, de Mario Abbade
Menção Honrosa: Gracindo Junior, por A Queda
Menção Honrosa: Mangueira em 2 tempos, de Ana Maria Magalhães
Menção Honrosa: Quitéria, de Tiago A. Neves
BWIE Brazilian Women in Entertainment (empate): Rosa das Aroeiras, de Monica Mac Dowell e Windows to the World – AM to PM, de Bia Oliveira
Mostra 60 segundos (empate): Stonely Language, de Reza Saveys e Forest League, de Sergio Kalili
International Shorts (empate): Piece of Me, de Bruna Cabral e Broken Hills, de Edmilson Filho
LAMV | Los Angeles Latin Music Video Festival
BRAZIL COMPETITION
Melhor Videoclipe: Pedrinho, de Tulipa Ruiz (Direção: Fabio Lamounier, Pedro França e Rodrigo Ladeira)
Melhor Direção: Fabio Lamounier, Pedro França e Rodrigo Ladeira, por Pedrinho, de Tulipa Ruiz
Melhor Fotografia: Casmurro, de Alex Albino
Melhor Edição: Amigo da Onça & Beija Flor, da banda Amigos da Onça
Melhor Narrativa: A Cada Passo, da banda Trema
Melhor Direção de Arte: My Girl, de Vintage Culture
Melhor Voz: Alan Rocha
Melhor Animação: Canção de Partida, de GA Setubal (Direção: Deco Farkas)
Melhor Instrumental: Alumiou, de Alan Rocha
Melhor Canção: Alumiou, de Alan Rocha
INTERNATIONAL COMPETITION
Melhor Videoclipe: I Have No Home, de Odyn V Kanoe (Direção: Volodymyr Vlasenko)
Melhor Direção: Sito Ruiz e Esteve Puig, por Teleapàtic, da banda Minova
Melhor Fotografia: I Have No Home, de Odyn V Kanoe
Melhor Edição: Third Eye Visuals, por Akudama, de Alpha Wolf
Melhor Narrativa: Jorge Torres, Oswaldo Colon Ortiz e Eduardo Benson, Al Frente, de Las Abejas
Melhor Direção de Arte: De Ontem, de Liniker e os Caramelows
Melhor Voz: Amanda Magalhães
Melhor Instrumental: Akudama, de Alpha Wolf
Melhor Canção: O Amor te Dá, de Amanda Magalhães
Melhor Videoclipe | Voto Popular: Vivência, de Ramonzin e BK (Direção: Isabelle Lopes)
Melhor Performance Artística | Voto Popular: Desce pro Play (Pa Pa Pa), de Mc Zaac, Anitta e Tyga (Direção: Thiago Eva)