Indocumentados continuam impedidos de tomar vacina contra Covid-19 se não provarem residência na Flórida

No calor escaldante, Doris Mejia lentamente abre caminho até a frente fila para receber a vacina contra a Covid-19. Pela quinta vez em um mês, ela é questionada sobre ter uma carteira de identidade da Flórida. A imigrante, novamente, balança a cabeça negativamente. Sem este documento, nenhum local de vacinação se dispôs a imunizar a mulher, que é natutal de El Salvador e vive em Homestead de forma ilegal.

Para a mãe solteira que tem quatro filhos e vive como trabalhadora rural e empregada doméstica, não poder receber a vacina tem um preço alto. Ela sofre de problemas cardíacos, o que a aumenta o risco de sofrer complicações caso seja infectada pelo vírus.

Além de não receber a vacina, a imigrante deixou de ganhar parte do seu salário depois de ter tirado uma folga do trabalho para fazer a longa jornada para tentar obter a chance de se vacinar. “O que sentimos é que eles não querem que os imigrantes sejam vacinados”, disse Mejia ao Miami Herald. “Eles nos veem como menos, mas trabalhamos mais”.

Em todo o país, imigrantes indocumentados – muitos deles trabalhadores essenciais - foram impedidos de receber a vacina contra a COVID-19, apesar do aumento da disponibilidade do imunizante. Enquanto alguns estados bloqueiam a vacinação, em alguns casos, os governos locais criam meios para pular a burocracia e tentar vacinar a população vulnerável, encontrando maneiras alternativas de comprovar a residência.

Na Flórida, para receber a vacina as pessoas são obrigadas a mostrar uma carteira de motorista válida no estado ou um documento de identidade com foto emitido pelo governo dos EUA, uma conta de serviço público (luz, gás, etc) com um endereço e o nome do indivíduo ou um contrato de aluguel.

A correspondência de uma instituição financeira ou agência governamental que mostre o nome da pessoa e o endereço da Flórida também pode ser fornecida como prova.

O problema é que esses requisitos não são flexíveis o suficiente, de acordo com os especialistas e prejudica muitos imigrantes indocumentados. “A maioria de nossos trabalhadores agrícolas, diaristas e domésticos não teve acesso à vacina”, disse Oscar Londoño, diretor executivo da WeCount!, um centro de ajuda a trabalhadores imigrantes em South Dade. “Muitas famílias com insegurança quanto a moradia nos relataram que foram recusadas para receber a imunização”, acrescentou.

Leslie Fajardo é uma das imigrantes que foram barradas. Na quarta-feira, dia 16, ela acampou em um local de vacinação de South Dade desde às 3:00 a.m. para que pudesse ser a primeira da fila. Às 8:30 a.m., a imigrante foi avisada para ir para casa porque ela não atendia aos requisitos de identificação. “É minha terceira tentativa”, disse. “Fui com um grupo de colegas de trabalho e todos ouviram a mesma coisa”.

Melissa Taveras, porta-voz da Coalizão de Imigrantes da Flórida, diz que relatos de pessoas sendo rejeitadas estão "crescendo".

“À medida que as notícias sobre as qualificações atualizadas da vacina se espalham, estamos recebendo ligações de comunidades indocumentadas, muitos trabalhadores essenciais da linha de frente, temerosos por não ter acesso às vacinas, especialmente com a exigência de residência emitida pelo governo da Flórida”, disse Melissa.

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Fonte: Da redação