Publicado em 4/10/2021 as 8:00am
Conheça a brasileira que serve ao Exército dos EUA
A famosa Soldada Americana é uma brasileira de Tocantins que há oito anos vive na Flórida,...
A famosa Soldada Americana é uma brasileira de Tocantins que há oito anos vive na Flórida, nos Estados Unidos, e há cinco anos serve nas Forças Armadas Americanas. No início, como a maioria dos imigrantes sem o domínio do idioma e não tem a licença de trabalho no país, a tocantinense também trabalhou na faxina e em restaurantes, como maioria dos brasileiros recém-chegados aos EUA. Mal sabia ela que a vida lhe reservaria boas surpresas. Casou-se com um norte-americano, recebeu o Green Card que é o visto permanente para imigrante, e alistou-se no exército.
Denize Marx,39, ficou popular nas redes sociais depois de postar vídeos contando sobre sua rotina de trabalho no exército. O que chama a atenção do público é o tipo de tarefa que ela executa, pouco comum para as delicadas mãos femininas. Atua como engenheira de construção horizontal, ofício que aprendeu dentro do exército. Opera máquinas pesadas na construção de pontes e rodovias.
Morar nos Estados Unidos nunca foi seu sonho, e entrar no Exército Americano? Não, ela nunca havia pensado nisso antes. A curiosidade para conhecer o exército surgiu através de uma prima que já atuava nas Forças Armadas Americanas. Denize fora instigada por essa prima, porém, para saber mais sobre os trâmites legais para servir, ela conta que foi pessoalmente ao departamento de recruta para buscar mais informações sobre o processo de alistamento. Mas lá eles já a colocaram para fazer testes e saiu com uma aplicação feita para o alistamento. As coisas aconteceram de forma tão rápida e inesperada que ela se surpreendeu. Revela que o processo é muito mais simples do que se possa imaginar, basta estar dentro do perfil estabelecido, ou seja, na idade certa e possuir as documentações necessárias, no caso de imigrante, é exigido o Green Card.
Denize informa que a pessoa precisa fazer uma prova de conhecimentos básicos na qual deve demonstrar noções do idioma inglês, ou seja, habilidades comunicacionais, conhecimentos de matemática, ciências, e habilidades em tecnologias. Além disso, o exército faz uma rigorosa pesquisa a respeito da vida do candidato, não só do aspirante, mas também dos seus familiares. Tirar uma boa nota na prova garante ao candidato alguns privilégios, como por exemplo, de escolher a profissão que quer exercer dentro da corporação. Para o imigrante que não tem o domínio do idioma, existe a oportunidade de se fazer um curso de inglês, e durante o período de estudos na base do exército ele recebe como ativo.
Sobre a rotina de trabalho, Denize é reserva e atua apenas em um final de semana por mês. Durante o verão, no mês de julho, trabalha em três finais de semana. Além disso, existem treinamentos especiais, como qualificação de armas e outras atividades que exigem a presença dela em m
ais dias da semana. Informa que também é requisitada para realizar algumas tarefas especiais, ela sempre se apresenta para executar esses trabalhos, para os quais é remunerada.
A vantagem de ser reserva é que a pessoa tem a oportunidade de trabalhar perto de casa, já o soldado da ativa deve embarcar para onde for designado, eles não têm escolha. Denize esclarece a diferença entre um reserva e um soldado da ativa: “o reserva geralmente trabalha em apenas um fim de semana por mês e recebe apenas pelo dia trabalhado, já o soldado da ativa trabalha no período integral para o exército e recebe mensal”.
O maior desafio para a soldada foi no Basic Combat Training, traduzindo para o português, é o Treinamento Básico de Combate do Exército Americano. “O normal do exército é que as pessoas entram bem jovens com 17 ou 18 anos, 19 já é velho”, brinca. Denize correu contra o tempo e entrou no limite da idade, com 35 anos, o seu maior desafio foi no teste físico. “Seria um pouco desleal competir fisicamente com um pessoal tão jovem”, salienta. Porém, no treino psicológico a idade oferecia vantagens. A maturidade fez com que suportasse muita pressão psicológica e permanecesse emocionalmente equilibrada. A diferença é que a maioria dos jovens ganhava dela no teste físico, mas perdia no aspecto
emocional, e ela com o psicológico equilibrado também conseguia dominar a parte física como caminhar mesmo sentindo dores com o pé destroncado. Essa é a vantagem da maior idade em relação aos jovens.
A parte mais difícil do treinamento é que eles pegam muito pesado nos primeiros dias, na fase vermelha, por exemplo, tudo que o recruta for fazer tem que ser correndo, em qualquer lugar que vá, até ao banheiro, deve ir correndo. Existem os castigos rigorosos como, ficar na posição de flexão por até 30 minutos, já passou noites sem dormir porque era proibida de descansar, destroncou o tornozelo no segundo dia de treinamento e mesmo assim teve de realizar as atividades. Além disso, “o isolamento social gera um desgaste psicológico, a gente não pode ter contato com familiares a não ser por carta, os celulares são proibidos. Essa experiência faz a gente dar valor às mínimas coisas”, adverte.
Apesar de tudo isso, a Soldada Americana revela que sente muito prazer em estar ali, o seu maior orgulho é de saber que está executando um trabalho socialmente visto como um trabalho de homem. Opera máquinas pesadas como: retroescavadeira e caçambas para a construção de pontes e estradas. Ela se sente orgulhosa em fazer isso e mostrar que as mulheres podem ser o que elas querem ser. Essa fala nos remete ao poeta americano Countee Cullen, autor da poesia Hey, black child, que diz: “você sabe que pode ser o que você quer ser, se você tentar ser”. A fala da entrevistada carrega tanta força de expressão quanto essa bela poesia.
Denise nunca estudou engenharia antes, ao contrário, se formou em letras e exercia a profissão de professora no Brasil. A engenharia aprendeu na marra, no exército. Explica que, existem dois treinos no Exército Americano, um treino é para todos de forma igual, não importa o gênero ou a profissão, o treino é para ser soldado. Posteriormente, tem o treino da profissão onde o candidato é qualificado para executar um trabalho específico.
Sobre a naturalidade dos soldados, Denize revela que existe um número muito expressivo de imigrantes que serve no Exército Americano, dentre esses, alguns brasileiros e brasileiras. Ela já orientou outras brasileiras a se alistarem e que hoje estão na ativa. Diante da crítica de que os imigrantes são “bala de canhão” do Exército Americano, a soldada defende com veemência a América, argumenta que nos Estados Unidos o alistamento é voluntário e não obrigatório como no Brasil, portanto, a pessoa que deseja servir no exército vai de livre e espontânea vontade, como foi o caso dela. O imigrante pode ver o exército como uma oportunidade de crescer financeiramente e ter uma estabilidade profissional, mas não para obter documentos porque para se alistar, é preciso ter o Green Card. Denise esclarece que não foi preciso renunciar à cidadania brasileira para servir no Exército Americano, ela declara ter dupla cidadania.
A soldada Marx já foi convocada para uma missão no Oriente Médio, chegou a embarcar para o pré-treino na base do Texas, nos Estados unidos, ficou lá por dois meses. A situação na base foi bem delicada devido à pandemia Covid-19, visto que, se um soldado estava contaminado, pelo menos dez tinha de fazer a quarentena.
A soldada lamenta o fato de não ter sido apta para prosseguir a viagem devido à reprovação no exame médico, ela já teve um câncer de colo do útero, isso tornou a sua saúde um pouco mais frágil, como consequência da radioterapia teve o rim esquerdo queimado. Denise confessa que quase entrou em depressão porque desejava muito ter participado dessa missão, são mais de 150 companheiros que hoje estão no Oriente Méd
io, e ela almejava muito estar lá. Todavia, como uma boa brasileira que não desiste e uma soldada pronta para a guerra, ela alimenta o sonho em participar de uma missão de combate. Denize esclarece que às vezes o exército convoca soldados para complementar o número do batalhão, ela está pronta para se apresentar, garante que a saúde vai bem, o que a entristece é que poderá servir em uma companhia onde teria menos amigos, não é o grupo com o qual se formou, isso a deixa um pouco desapontada. Mas garante que está pronta para a batalha.
Sobre a questão salarial, existe uma diferença entre quem é reserva e quem é ativo. O reserva recebe apenas os dias trabalhados, já quem está na ativa tem o salário mensal. A tabela salarial varia de acordo com a patente e pelo tempo de serviço. O salário mensal de um soldado está na faixa de seis mil dólares por mês. Lembrando que, ele tem benefícios tais como: moradia, alimentação, plano de saúde e auxílio dependente, para quem tem filhos menores, benefício escolar, o exército paga a faculdade, assim como os descontos para militares, o militar tem desconto na carteira em diversos estabelecimentos comerciais. Quem está em missão recebe outros bônus, como de periculosidade dentre outros. O reserva tem os mesmos benefícios que os da ativa.
Com a pandemia da Covid-19, agora tornou-se mandatório, todos os servidores do exército são obrigados a se vacinar. Existem pessoas que por motivos religiosos ou outras crenças que não iriam se vacinar, porém, a ordem é: ou se vacina ou será mandado embora.
Uma das maiores curiosidades de seus seguidores nas redes sociais é sobre manusear a arma. Para além de apertar o gatilho ela deve se familiarizar bastante com o armamento, o soldado aprende a montar e a desmontar, tirando os minúsculos parafusos da máquina de matar. Denize confessa que gosta de atirar e pratica tiro como robby, para ela é uma verdadeira terapia.
Além de trabalhar no Exército Amerciano, Denize atua como notária, preenche documentos para imigrantes, ademais, é muito ativa nas redes sociais onde compartilha as suas experiências no exército, seu canal no YouTube tem 3,38 mil inscritos e 102k de seguidores no Instagram, isso significa milhares de pessoas que a segue nas redes sociais.
Os pais no Brasil se enchem de orgulho, a mãe a apresenta a todos como a filha do Exército Americano, os irmãos e os filhos, todos dão total apoio. Inclusive o marido que também aprecia bastante o seu trabalho.
A Soldada Americana conclui a entrevista com um recado para as mulheres, ela gosta da frase que diz: “O lugar de mulher é onde ela quiser”. A soldada acrescenta: “Não existe barreiras, se você quer ser, não existe trabalho para homem e trabalho para mulher. Não sou a única mulher a servir no exército, mas são poucas mulheres na corporação. Eu não tive muitas oportunidades, minha vida foi muito sofrida, tive dois filhos muito nova, cuidei sozinha dos filhos, trabalhei em escolas públicas”. Denize dá uma boa dose de incentivo, esclarece que colocou os seus projetos como prioridade e correu atrás, “se eu consegui você também pode conseguir”!
Essa é a inspiradora história de uma mulher brasileira que atua no Exército Americano.
Fonte: Por: Eliana Marcolino – jornalista freelancer