O juiz Joel Cano, do Tribunal de Magistrados do Condado de Doña Ana, renunciou ao cargo após a prisão de um suposto membro da perigosa gangue internacional Tren de Aragua em uma residência ligada à sua família. A renúncia ocorre em meio a uma investigação federal que levanta questionamentos sobre os vínculos entre o magistrado e o imigrante indocumentado venezuelano Cristhian Ortega-Lopez.
Segundo documentos judiciais obtidos pela Fox News Digital, a prisão de Ortega-Lopez ocorreu em 28 de fevereiro, durante o cumprimento de dois mandados de busca em uma propriedade identificada como pertencente à esposa do juiz, Nancy Cano. No local, agentes da Divisão de Investigações de Segurança Interna (HSI) em Las Cruces apreenderam quatro armas de fogo e detiveram Ortega-Lopez e seus colegas de residência, todos imigrantes indocumentados.
De acordo com as investigações, Ortega-Lopez, que entrou ilegalmente nos Estados Unidos pelo México em dezembro de 2023, estava vivendo na “casita” nos fundos da casa do casal Cano. Ele havia conhecido Nancy enquanto realizava pequenos serviços de manutenção. Após ser despejado do apartamento em que morava, Nancy teria oferecido a ele o anexo para se hospedar.
O relatório das autoridades federais aponta que Ortega-Lopez, supostamente vinculado à violenta gangue Tren de Aragua, foi visto em redes sociais posando com armas, algumas das quais teriam sido fornecidas pela filha do juiz, April Cano. Ele teria afirmado que ela o autorizava a manusear e até disparar as armas em questão.
O juiz Joel Cano apresentou sua carta de renúncia em 3 de março, mas o documento só foi oficialmente recebido pela Suprema Corte estadual e pelo Tribunal do 3º Distrito Judicial em 31 de março. Seu último dia no cargo foi registrado como 21 de março. Na mensagem de despedida, ele desejou boa sorte aos colegas e não mencionou os eventos recentes.
O caso provocou inquietação no sistema judiciário. Durante uma audiência de detenção em 14 de março, o juiz federal Damian L. Martinez questionou a promotoria sobre um possível conhecimento prévio de Joel Cano. Martinez afirmou já ter encontrado Cano fora dos tribunais “várias vezes” e expressou dúvidas de que o juiz permitiria a presença de desconhecidos em sua propriedade.
Apesar disso, Ortega-Lopez foi inicialmente considerado sem risco de fuga ou ameaça à comunidade, sendo liberado. No entanto, uma moção para reavaliar sua liberação pré-julgamento foi apresentada em 8 de abril por um promotor federal.
O porta-voz do Escritório Administrativo dos Tribunais confirmou que a governadora democrata Michelle Lujan Grisham nomeará um substituto para concluir o mandato de Cano, que vai até o fim de 2026. A Suprema Corte do estado agendou para 24 de abril uma audiência pública sobre o caso, que será transmitida ao vivo.
O envolvimento de membros do Judiciário com indivíduos ligados ao crime organizado reforça a preocupação com a infiltração de organizações criminosas transnacionais nos Estados Unidos, especialmente à medida que gangues como o Tren de Aragua expandem sua atuação para além da América Latina.